Não tenho procuração para advogar para quem quer que seja, mas tenho as minhas opiniões, é claro. Evito de entrar na seara da política nacional, pois tudo acaba em polarização e, em razão disso, entendo que não vale a pena perder tempo esclarecendo algo que as pessoas não estão dispostas a absorver, seja de um lado ou de outro. Vez que outra, no entanto, é preciso levar em conta a forma como o Governo Federal atua para contextualizar determinadas situações.
A passagem por Venâncio Aires de Paulo Pimenta e Maneco Hassen – números 1 e 2 do Ministério Extraordinário de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, respectivamente -, passou longe de ser tranquila. Em Vila Mariante, os enviados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram cobrados por moradores – sobre recursos para a reconstrução da localidade – e contestados por integrantes da Administração, entre eles o prefeito Jarbas da Rosa, acerca de repasses anunciados e que não chegaram.
Maneco, ex-prefeito de Taquari e ex-presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), falou dos quase R$ 18 milhões destinados à Capital Nacional do Chimarrão ainda em relação às enchentes de 2023. Foi contestado pela coordenadora do Departamento de Comunicação e Marketing da Prefeitura, Daiana Nervo, e também pela secretária de Planejamento e Urbanismo, Deizimara Souza, que sustentam que a maior parte deste montante não bateu nos cofres. Vídeos circulam em grupos de WhatsApp desde domingo, 23.
Pimenta foi ainda mais longe. Declarou que R$ 128 milhões da União teriam sido destinados a Venâncio Aires. Neste caso, ele contabiliza os saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), crédito empresarial pelo Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), Auxílio Reconstrução e antecipação do Bolsa Família e do 13º salário de aposentados e pensionistas.
A rigor – e é isso que deixou a cúpula da Administração de Venâncio Aires enfurecida -, só os recursos do Auxílio Reconstrução, de R$ 5,1 mil por família que teve a residência atingida pelas enchentes, é dinheiro extra. A outra medida de incentivo é o percentual de 40% que a União concederá a fundo perdido no caso do Pronampe. O resto é dinheiro do contribuinte ou referente a programas e benefícios sociais. Jarbas já tinha criticado os representantes do governo anteriormente e, ontem, determinou que a equipe fizesse um levantamento sobre o valor que veio, de fato.
É preciso transparência, seriedade e exatidão nas informações neste momento de reconstrução. Todos estão com os nervos à flor da pele e, no caso das famílias atingidas diretamente, tudo o que não precisam é de informações desencontradas. Município, Estado e União precisam falar a mesma língua. Não pode o prefeito Jarbas da Rosa e o governador Eduardo Leite concordarem que não serão reconstruídos prédios públicos em Vila Mariante e o ministro Pimenta chegar aqui e dizer que é possível, desde que a Prefeitura e Estado encaminhem os projetos. Isso é terrível para quem está no olho do furacão e não entende a burocracia que envolve qualquer processo público, apesar da calamidade.
As coisas estão desalinhadas desde as cheias do ano passado, quando o vice-presidente Geraldo Alckmin veio a Lajeado e anunciou recursos que acabaram não sendo acessados por muitas pessoas que ficaram com a impressão de que teriam direito. Aí a responsabilidade recaiu sobre a Administração Municipal, que é quem está perto dos cidadãos e tem de explicar os processos e critérios. Toda a ajuda da União é bem-vinda e necessária, mas já passou da hora de colocar toda esta história em pratos limpos. Caso contrário, vamos reconstruir Venâncio Aires e estado com desconfiança e desinformação. A edição de hoje traz, na página 4, matéria tratando disso. Cada um que faça sua interpretação.
Rapidinhas
• Moradores do bairro São Francisco Xavier notaram que a água das torneiras estava com uma coloração estranha ontem. Alguns relatos davam conta de que parecia haver areia misturada. Contatado pela coluna, o gerente da Corsan Aegea em Venâncio Aires, Ilmor Dörr, afirmou que acredita que o problema seja decorrente de um conserto que foi feito no bairro Aviação. Se persistir, a Corsan deve ser acionada para fazer o expurgo.
• Líder de governo na Câmara, Gerson Ruppenthal (PDT) negou, pela segunda semana seguida, o pedido de Diego Wolschick (PP) para que projetos afins fossem votados em bloco. Resta saber se a negativa se dá em razão de os dois serem desafetos ou é simplesmente uma mera coincidência.