Três décadas já se passaram desde a iniciativa do professor e advogado Praxedes da Silva Machado em criar um evento que se transformaria no maior festival artístico amador da América Latina – reconhecido pela Unesco – o Encontro de Artes e Tradições Gaúchas (Enart). Responsável cultural do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), Praxedes nem poderia imaginar que seu feito se transformaria em sonhos, desafios e um festival de tamanha proporção e que chegou à sua 30ª edição, nos dias 20, 21 e 22, em Santa Cruz do Sul.
OBJETIVOPara ele, na época, o objetivo principal era combater o alto nível de analfabetismo no país. Junto a isto, no Rio Grande do Sul, também buscava divulgar a cultura, descobrir novos talentos e elevar a autoestima da população. A partir de parceria com o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), e com a participação do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF) foi criado o Festival Estadual de Arte Popular e Folclore, que se popularizou como Festival Estadual do Mobral. Em 1986, denominou-se de Festival Gaúcho de Arte e Tradição (Fegart). O nome Enart foi incorporado em 1999, e criou sua marca reconhecido mundialmente.
NOVOS TEMPOSComo em todos os desafios, busca-se melhorar cada vez mais. Com os grupos de danças tradicionais não é diferente. Entre estes, novos talentos individuais se revelam a cada ano, e ao longo do tempo agregaram valor ao festival.
MODALIDADESAtualmente, as mais de 20 modalidades disputadas no Enart apresentam artistas, que apesar de serem considerados amadores, nada deixam a desejar para profissionais renomados. Em nome da cultura gaúcha, eles encantam e levam na bagagem apenas troféus. O que concordo. No entanto, para chegar lá, colocam a mão na guaiaca para pagar seus orientadores. O que também não discordo. São novos tempos. E, a maioria destes instrutores/orientadores são professores, mestres em educação, escritores, que se dedicam à qualificar àqueles que se desafiam nas artes. Quem sabe para futuramente também exercerem a profissão na área.
TECNOLOGIADesde a criação do Enart, a divulgação pelos meios de comunicação foi uma crescente. Congressos de comunicadores do movimento, a exemplo de 2008, em Santana do Livramento, quando aconteceu a sexta edição, também buscaram incentivar e qualificar pessoas para colaborar com todas as plataformas de mídia. Avanço com destaque, especialmente, entre os jovens que obrigaram as gerações a acompanhar esta evolução. Por outro lado, a rapidez do online, hoje, fruto deste avanço, permite à manifestação de insatisfações instantâneas, mas ao mesmo tempo exige que algum resultado equivocado, ou por erros de sistema, sejam imediatamente sanados. Esclarecimentos que chegam quase em tempo real. Exemplo do que ocorreu nesta edição do Enart, com notas dos grupos da Força A, que se sentiram prejudicados, por erros de sistema. O fato foi amplamente divulgado nas redes sociais e teve um desfecho, com atitude e humildade por parte dos dirigentes do MTG.
COMPROMISSOEntretanto, os registros e as palavras podem até serem deletadas, porém o imediatismo sempre tem suas consequências. Algo que talvez, nos alerte, diante destes exemplos. Do outro lado do computador estão os seres humanos. Nesta linha de pensamento, há compreensões, porém há que se repensar métodos, conferir muito bem resultados antes de anunciar para que estas falhas não comprometam a credibilidade de um movimento. Sobretudo, para que os envolvidos na preservação da tradição gaúcha possam sentir prazer em estar à frente do movimento.
VALE LEMBRAR“Uma geração vai, e outra geração vem; porém a terra para sempre permanece. E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar donde nasceu. O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo seus circuitos.” — Eclesiástes – 1: 4, 5, 6. (na abertura de O Tempo e o Vento – Erico Verissimo)
CuriosidadeCampeões na história Fegart/Enart- CTG Aldeia dos Anjos – Gravataí – 1ª RT (Fegart: 1987 – 1992 – 1994 – 1996/97)(Enart: 2000/01 – 2005/06) (Enart, 2009, 2015)- CTG João Sobrinho – Capão da Canoa – 23ª RT (1988) – CTG Porteira Velha – Novo Hamburgo – 30ª RT (1998)- CTG Ronda Charrua – Farroupilha – 23ª RT (1990 – 2013))- CTG Rincão Serrano – Carazinho – 7ª RT (1991)- CTG Porteira Velha – Novo Hamburgo – 30ª (1993)- CTG Sentinela da Querência – Santa Maria – 13ª RT (1995)- CPF Piá do Sul – Santa Maria – 13ª (1998 – 1999 – 2003)- CTG Lanceiros da Zona Sul Porto Alegre 1ª RT (2002)- CTG Rancho da Saudade Cachoeirinha 1ª RT (2004 – 2007 – 2011 – 2012 – 2014)- CTG Gildo de Freitas – Porto Alegre – 1ª RT (2008)- DTG Clube Juventude – Alegrete – 4ª RT (2010)Começa a Força B2009 – CTG Chilena de Prata – Alvorada – 1ª RT (força B)2010 – CTG Caminhos do Pampa – Porto Alegre – 1ª RT (força B)2011 – Sociedade Gaúcha Lomba Grande – Novo Hamburgo – 30ª RT (força B)2012- CTG Fronteira Aberta – Santana do Livramento – 18ª RT (força B)2013 – CTF Os Nativos – Santa Maria – 13ª RT (força B)2014 -CTG Tropeiro Velho – Panambi – 9ª RT (força B)2015 – DTG Ponche Verde – Panambi – 9ª RT (força B)
MEU ABRAçO VAI PARARogério Bastos que criou a TV Tradição, em 2009. Com o slogan ‘Tá no Enart, tá no mundo’, ele comandou a transmissão do Enart até 2012, quando esta passou à direção de Zeca Tessmann. Neste ano, um dos destaques durante a PROGRAMAÇÃO ficou por conta da amiga Ana Claudia Feltrim, que com maestria contou, entrevistou e alegrou os quatro cantos do Sul, e fora dele, com eloquência e conhecimento de causa.