Enart: sentimento e profissionalismo

A Inter-regional bate à porta. Os ensaios das invernadas se intensificam. No Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Chaleira Preta, os horários vão madrugada a dentro. Tudo para fazer bonito na pista e buscar uma vaga à grande final do Encontro de Artes e Tradições Gaúchas (Enart). A invermada que vai participar com mais 21 grupos na Força A, entra em pista no sábado, 26, na parte da manhã.

Enquanto isto, o Departamento de Tradições Gaúchas (DTG) Piazito da Tradição que busca uma vaga na Força B, concorre com mais 18 grupos. A competição ocorre no domingo, 27, na parte da manhã. As apresentações se realizam no Ginásio Poliesportivo, sem cobrança de ingressos.

Nesta mescla de atividade intensa com emoção aflorada, buscamos algumas considerações de pessoas que têm suas vidas ligadas ao Movimento Tradicionalista Gaúcho e também são profissionais em suas áreas ligadas às danças e à música. Confira abaixo, entrevista de quem entende do assunto.

Foto: Beatriz Colombelli / Folha do Mate

  “Pra quem vive tradicionalismo, respira a cultura, o Enart é o degrau mais alto a ser alcançado. Eu já subi neste palco sagrado, e cantar para qualquer grupo já seria muito bom, mas cantar pelo Chaleira Preta é diferente. Eu canto COM o Chaleira, este grupo dedicado, focado que trabalha duro para estar competindo no Força A do Enart. Voltar ao Enart com a Família Chaleira Preta me emociona demais!” Marla de Oliveira Tradicionalista e integrante do musical

  Nesta mescla de atividade intensa com emoção aflorada, buscamos algumas considerações de pessoas que têm suas vidas ligadas ao Movimento Tradicionalista Gaúcho e também são profissionais em suas áreas ligadas às danças e à música. Em entrevista à Folha do Mate, dois profissionais ligados a àrea tradicionalista, professores por formação, intrutores e campeões do Enart e mundial. Eles são de Porto Alegre e vieram para ajustar detalhes com a invernada do CTG Chaleira Preta.

Folha do Mate:  Nome e formação profissional do casal

Foto: Arquivo pessoal / Folha do Mate

Cármen Lúcia Müller Avila: Letras – Licenciatura

Marco Aurélio Machado Avila: Educação Física-Bacharel

Há quanto tempo estão na função de instrutores?

Trabalhamos como instrutores de danças tradicionais desde 1986

Um breve histórico de suas trajetórias no Movimento:

Iniciamos no movimento quando pequenos ainda por intermédio da família. Desde então, cultivamos esse sentimento pelas nossas tradições até os dias de hj, atuando com muito destaque no meio tradicionalista. Posso dizer que tivemos a sorte de termos nos encontrado e juntos construído uma linda história de amor, e também de amor à dança. Somos casados há 16 anos e durante todo esse tempo tivemos muitas conquistas no âmbito  competitivo em concursos artísticos como rodeios, FEGART e Enart, do qual nos consagramos dez vezes campeões deste grandioso festival. 

Recentemente, conquistamos um título internacional e trouxemos para o Brasil o troféu Ponte de Ouro, conquistado num festival de folclore competitivo, na Turquia.Participaram desta competição 24 países que num tempo de 20 minutos mostraram a sua variedade folclórica nos trajes, músicas e danças. Através do folclore e da dança cruzamos as fronteiras e conhecemos o mundo.

Desde a sua difusão e pesquisas, as danças tradicionais sofreram alterações ou se mantém a sua base estrutural:

Nossas danças recolhidas pelos folcloristas Paixão Côrtes e Barbosa Lessa estão documentadas e registradas num Manual de Danças Tradicionais, o qual devemos ter como embasamento para o ensino, e também para a preservação das características das mesmas. Como temos muitos  concursos artísticos competitivos, devemos sempre estar atentos às alterações que possam ter em torno da correção coreográfica e da interpretação, dois quesitos que são avaliados no momento da competição. O movimento não é algo estático, por isso acredito que as mudanças sirvam para nos atualizarmos e acompanharmos a evolução. Entendemos como algo natural no processo e que devemos ter a preocupação de não mudar e sim ajustar sem perder a essência.

O que leva cada vez mais novos instrutores a se iniciarem na função e quem os instrui nesta nova caminhada:

No campo da instrução temos tido muitas pessoas que estão buscando capacitação para ensinar, instruir. O motivo deve ter sido o mesmo que nos levou a iniciar e continuar na lida, até hoje. O prazer em cultuar as nossas tradições, o zelo pela preservação de nossos valores, o amor à dança e às nossas origens. Quem promove a formação de novos instrutores é o MTG, órgão responsável por ofertar cursos e dar a assistência necessária aos que estão ingressando.

Qual a formação exigida destes novos profissionais

A formação exigida destes novos profissionais é apenas um curso de instrutor ofertado pelo MTG.

Qual a média cobrada pelos instrutores já podemos chamar de profissão?

A média cobrada varia muito entre os profissionais. Não podemos precisar com exatidão os valores.

Em relação aos instruídos, que misto de sentimento é este frente à complexidade do conjunto de regras e normas impostas pelo MTG?

Acreditamos que o sentimento é o de orgulho e amor ao que representam. No momento em que cultivam as tradições têm um envolvimento não só emocional, mas também financeiro o que de certa forma demonstra um comprometimento muito grande com a causa tradicionalista.

Quanto ao tempo utilizado nos ensaios, quais os critérios avaliados em relação à saúde física e psicológica dos dançarinos?

O critério é nunca fazer ensaios muito prolongados quando os dançarinos estão cansados fisicamente, pois sempre há o risco de lesão. O emocional é algo que deve estar em equilíbrio, para garantir o sucesso do trabalho. Uma pessoa motivada e confiante facilmente atinge os objetivos propostos.

Os avaliadores das competições e especialmente Enart, como são escolhidos para tal função?

Os avaliadores dos concursos são selecionados pela diretoria artística do MTG.

Contextualize, a partir de suas experiências ‘Dança, vida, valores sociocultural’

A partir das nossas vivências podemos dizer que todo o patrimônio físico e cultural que construímos teve origem na dança. Através dela, buscamos o conhecimento, ingressamos numa faculdade, nos graduamos e hoje, temos uma profissão. Com o tempo nos tornamos instrutores, conhecedores e propagadores da cultura gaúcha. Viajamos e conhecemos muitos folclores internacionais o que nos motiva sempre a continuar realizando essas atividades.Viajar com amigos, dançar e desbravar novos lugares é sem dúvida, o incentivo que todos precisam para se renovar e se reinventar. Ao longo dos tempos, amadurecemos como seres humanos, buscamos refletir sobre o que é o movimento em si e buscamos ser participativos no meio tradicionalista. Acredito que essa seja a razão de estar em constante atividade e sempre encontrar prazer naquilo que nos propusemos a fazer.

 Que sentimento é este:

” é o reconhecimento do trabalho. Missão cumprida, alegria. O governo valoriza pouco a cultura e nós fizemos a nossa parte. No CTG constroi-se o caráter, forma-se uma familia”

Tiago Schwengber – instrutor

“é poder receber a troca de emoção, a vibração e o aplauso do público”

Guilherme Fraga Leite – coreógrafo e instrutor de dança