Luzes do rancho

Foto: Beatriz Colombelli / Folha do MateLenda do Abrelino
Lenda do Abrelino (Re(começo)

Quando a tarde bate na parede do rancho, fecham-se as janelas. O sol de mansito, adentra por entre as frestas à espera de um aceno, um olhar. Ele permanece ali, sem nada exigir, apenas dá o seu espetáculo. Nesta despedida, o astro rei torna-se tão próximo, e  ao mesmo tempo, tão distante. Neste mistério do homem com a natureza,aguçam-se os sentimentos. No rancho, que hoje, mistura legado e modernidade, há natureza por todos os lados, latido de cães, cheiro de fogão a lenha, gorgear dos pássores e o cantar do galo. Mas, há também a lenda do Abrelino.

Conta a lenda, que neste ranchito o piá nasceu, cresceu e se fez peão. Na sua infância ele brincou de bolica, soltou pipa, e foi mestre nas carreiras de cavalo. Porém, desde pequeno, Abrelino, no fim da tarde precisava cumprir suas tarefas. Entre os afazeres estava o recolhimento de gravetos para acender o fogo, a cada novo dia. A tudo executva entre cantorias e assovios. Saltitava, que mais parecia um saci, embora tivesse as duas pernas perfeitas.Sua pressa, entretanto, nada deixava a desejar. Mas esta pressa tinha uma explicação, que aos poucos foi se revelando.

Abrelino, na sua inocência, tinha também os amigos imaginários. Com eles se recolhia às margens do rio. A prosa era rápida, mas viajava na sua imaginação, e as representava em rabiscos. Em um caderno, amassado, que um dia ganhara como prêmio em uma pescaria, na festa do povoado, ele registrava os desenhos, daquela troca, ou sonho de criança. Tudo precisava ser rápido também. Pois, antes que o sol se despedisse, ao rancho Abrelino deveria retornar.

No casaco surrado, o menino escondia o caderno, com seus desenhos em preto e branco. Para seus olhos, porém, os raios de sol pintavam cada rabisco. Ele sonhava com as cores. Para alimentar este sonho, antes que a noite chegasse, recolhia folhas coloridas que encontrava pelo caminho. Junto com suas ‘obras de arte, as guardava, entre as folhas do caderno. Em seu mundo de faz de conta elas, também, davam cores a seus desenhos.

Entre o sonho e a sua realidade, Abrelino, ainda tinha o sol por companhia. No colorido dos raios, que se refletiam sobre as águas do rio, o menino embarcava para retornar ao rancho. Ao fechar as janelas, uma de suas tarefas, ele se despedia do amigo. Com olhar fixo na parede, como a registrar em sua memória, aqueles raios que o encantavam, a cada dia, ele renovava a esperança em viver no seu mundo de cores. (continua)

 

    

 

 

 

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