MTG: homenagem a Cabo Toco em Noite dos Museus

A noite do último sábado, 21 de maio, marcou a retomada da ‘Noite dos Museus’, em Porto Alegre, e por meio do Departamento de Pesquisa e Difusão Cultural do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), coordenado por Jeândrio Garcia, foi realizada a cerimônia de abertura das homenagens aos 120 anos de Olmira Leal de Oliveira, popularmente conhecida como Cabo Toco. As homenagens foram realizadas em parceria com o Museu da Brigada Militar, integrante do roteiro, à pioneira feminina nas fileiras brigadianas do início do século XX.

Música

O Museu da Brigada Militar brindou os visitantes com a apresentação da cantora Fatima Gimenez, que cantou a canção ‘Cabo Toco’, campeã da 5ª Vigília do Canto Gaúcho, de Cachoeira do Sul, e exposição sobre a história da homenageada. Na oportunidade, também representando a tradição gaúcha, os poetas brigadianos Cezar Tomazzini, José Estivalet e Paulo Henrique declamaram poesias alusivas à Instituição.

Entrelaçamento

Responsáveis pela programação, a chefe do Museu da BM, Cap. Mônica Botelho, e o 2° Sgt Carlos Gilmar Marques Silveira, avaliaram a homenagem como um justo reconhecimento à Cabo Toco e ao trabalho das mulheres na Brigada Militar. Para Jeândro Garcia, a parceria aproxima o MTG da sociedade e fortalece os vínculos, já estabelecidos, com a Brigada Militar. “O MTG e o Departamento de Pesquisa, em especial, agradecem a oportunidade que este evento nos dá, de conhecermos mais intimamente a Cabo Toco e seu legado, mas, sobretudo, de compreender a importância da BM na construção da identidade gaúcha”, destacou. De acordo com o vice-presidente do Departamento de Pesquisas, outras ações estão sendo organizadas em parceria com CTG’s e RT’s para homenagear a Cabo Toco nas passagens marcantes da sua vida.

Quem foi Cabo Toco

Olmira Leal de Oliveira nasceu em 18 de junho de 1902, na localidade de Camaquã, em Caçapava do Sul, filha de Francisco José de Oliveira e Auta Coelho Leal de Oliveira. Aos 21 anos de idade foi recrutada para integrar as fileiras da Brigada Militar, como enfermeira e combatente no 1º Regimento de Cavalaria, hoje 1º Regimento da Polícia Montada , com sede em Santa Maria. Graduada a cabo e devido a sua baixa estatura, atendia por “Cabo Toco.”

Primeira mulher a integrar as fileiras da corporação da Brigada Militar, em 1923. Participou dos movimentos revolucionários de 1923, 1924 e 1926. Cabo Toco é a patrona da primeira turma de Policiais Militares Femininas do Estado do Rio Grande do Sul. (Fonte: MTG)

Na história

Cabo Toco era uma apaixonada por queimar cartuchos, não se limitando apenas às atividades de apoio. Empunhando seu fuzil, lutava lado a lado com a mesma valentia dos demais soldados. Depois de passar por várias batalhas com destaque de bravura, deixou a corporação em 1932.

Casou com Antonio Martins da Silva, em 1951. Ficou viúva em 1954, e passou a viver de pequena pensão deixada pelo marido. Mulher forte, guerreira, símbolo vivo da história do Rio Grande do Sul, sem descendentes, vivia em uma casa paupérrima na periferia de Cachoeira do Sul. Andava pelas ruas com sua velha carroça, cansada e sem rumo, carregando consigo a história que o povo não conhecia.

Mesmo sendo considerada uma heroína, Cabo Toco só ficou conhecida depois que, em 1987, Nilo Bairros de Brum e Heleno Gimenez venceram a 5ª Vigília do Canto Gaúcho de Cachoeira do Sul com uma canção contando a sua história, na voz de Fátima Gimenez. Para a composição da letra, os autores tiveram que conquistar a sua confiança, para saber um pouco da sua trajetória de vida junto aos movimentos revolucionários, pois ela não gostava de falar do passado, e também tinha muita desconfiança com estranhos. Cabo Toco esteve presente na entrega da premiação da música, e viveu momentos de pura emoção ao ver sua vida contada em uma linda canção, apresentada para um grande público, que na sua maioria nem sequer sabia da sua existência.

Cabo Toco, quando faleceu, recebia pensão vitalícia especial, correspondente ao cargo de 2º Sargento da Brigada Militar concedida havia poucos anos, por parte do Governo do Estado. Olmira Leal de Oliveira faleceu em 21 de outubro de 1989, em Cachoeira do Sul, e está sepultada no Cemitério Municipal de Caçapava do Sul.

Na sua terra natal, foi homenageada com a denominação de uma Rua localizada no Bairro Mercedes, quadra compreendida entre as ruas Esperanto e Cel. Baltazar de Bem, através de Lei Municipal nº 054, de 08 de dezembro de 1989. A Brigada Militar de Caçapava do Sul também homenageou Cabo Toco em 21 de abril de 2007, colocando uma placa em seu túmulo com uma frase que faz parte da letra da música: ”Entrei de frente na história e, acredite quem quiser, em vinte e três fui soldado sem deixar de ser mulher”. (Fonte: Gazeta de Caçapava – Fátima Jovane Nunes (Caçapava Memória)

Cabo Toco

Interpretação: Fátima Gimenez

Letra: Nilo Bairros de Brum e Heleno Gimenez

Foi no lombo de um cavalo que descobri horizontes
Em vez de vestir bonecas andei gritando repontes
Entrei de frente na história e acredite quem quiser
Em vinte e três fui soldado sem deixar de ser mulher
Em vinte e três fui soldado sem deixar de ser mulher

(Me chamam de Cabo Toco
Sou guerreira, sou valente
Do Primeiro Regimento
Enfermeira e combatente

Me chamam de Cabo Toco
Só não sabe quem não quer
/Debaixo do talabarte
Há um coração de mulher/)

Lutei contra Honório Lemes na serra do Caverá
Na ponte do Alegrete meu fuzil estava lá
Enfrentei o Zeca Neto sem temor da “colorada”
Anita sem Garibaldi, já nasci emancipada
Anita sem Garibaldi, já nasci emancipada

(Me chamam de Cabo Toco
Sou guerreira, sou valente
Do Primeiro Regimento
Enfermeira e combatente

Me chamam de Cabo Toco
Só não sabe quem não quer
/Debaixo do talabarte
Há um coração de mulher/)

A velhice me encontrou com a miséria na soleira
A ver a vida por frestas num subúrbio de cachoeira
Digo aos curiosos que trazem ajudas interessadas
Que não quero caridade quero justiça e mais nada
Que não quero caridade quero justiça e mais nada

Conforme divulgado, o evento que foi suspenso nos últimos dois anos em função da covid-19, reuniu milhares de pessoas, que se apropriaram das ruas e espaços públicos da Capital gaúcha. No roteiro, 22 museus e centros culturais ofereceram múltiplas atrações do começo da noite até o início da madrugada.

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