Os caminhos do Rio Grande do Sul se encontram em Santa Cruz do Sul

Desde o coração de Santa Cruz do Sul, até o Parque de Eventos, as cores dos lenços dos gaúchos se entrelaçam, desde a última quarta-feira, 15, até este domingo, durante a 33ª Festa Campeira do Rio Grande do Sul (Fecars).

E foi bem no centro, na frente de um hotel, em Santa do Sul, que encontramos a família Oliveira. Enquanto me dirigia para um evento sobre Educação Infantil, através do Método ABCéu – Educação Humanizada – acompanhando minha eterna prenda, agora como profissional de fotografia.

E, claro, que a pilcha de pronto aproxima os corações. E quando se trata de criança, ainda mais: palpita fortemente, pois a vivência entre as famílias são memórias e embasamento para a vida toda.

Piazinho

Miguel é o nome dele. Aos seis anos, Miguel Fritsch de Oliveira, estava se dirigindo para o Parque de Rodeios, onde participaria da modalidade ‘Vaca Parada’, na sua categoria ‘Piazinho’.

Miguel, ao lado do Pai, Luciana, da mãe Débora e mano Leonardo (Foto: Beatriz Colombelli)

A família veio da cidade de Condor, representando o Centro de Tradição Gaúcha (CTG) Tropeiro da Liberdade, da 17ª Região Tradicionalista.

O pai, Luciano Felipe de Oliveira, que também é laçador, conta que a influência vem de família. Pois o – avô paterno – de Miguel, também é laçador. “Sempre estivemos no meio tradicionalista. Bah! Há mais de 40 anos”, acrescenta.

Acompanhado, também, da mãe, Débora Fritsch de Oliveira e do mano Leonardo Fritsch de Oliveira, o Piazinho estava muito orgulhoso, porém concentrado para o grande desafio. Afinal, ele estava participando de sua primeira Fecars, pois começou a laçar em agosto do ano passado, de acordo com o pai.

Três décadas

“No entanto, além da prática, existe outro fator importantíssimo para alguém se tornar campeiro autêntico: o amor por aquilo que se está fazendo!”. Com este pensamento de Cyro Dutra Ferreira, (10 de janeiro de 1927 – 9 de agosto de 2005, integrante do ‘Grupo dos Oito’), viajo no túnel do tempo a 1989. Minha prendinha, Regina, tinha 1 ano e quatro meses. E, Passo Fundo, esta colunista ainda não conhecia. Mas era lá, na ‘Capital do Planalto Médio, ou Capital da Literatura’, como é conhecido, que acontecia no mês de março, daquele ano, a primeira Festa Campeira do Rio Grande do Sul (Fecars), oficial, de acordo o livro ‘MTG 50 anos’, escrito por Rogério Bastos.

Evolução

Tês décadas se passaram. Minha trajetória no tradicionalismo, especialmente, na parte cultural e artística foi crescente. Embora não tenha me tornado uma laçadora, é do lombo do cavalo que trago as melhores memórias da minha infância. E, hoje, ver as gerações entrelaçadas no cultivo à tradição, nas modalidades campeiras, torna-se fundamental reverenciar àqueles que se dedicaram, entre os anos de 1983 a 1987, na regulamentação do evento em âmbito estadual.

Tiro de laço

Ao mesmo tempo, relembrar o nome de Alfredo José dos Santos, o criador do ‘Tiro de Laço’, conforme registro no livro ‘MTG 40 anos – raiz tradição e futuro’, que estampa uma foto do laçador, registrada em 4 de fevereiro de 1952, na cidade de Esmeralda, quando a guria aqui nem era nascida (risos). O que, talvez, Santos não imaginava, à época, era ver a gurizada e as prendas e tantas crianças adentrando as pistas de laço com maestria e pertencimento.

No entanto, como disse Cyro Dutra Ferreira: “Mais cedo ou mais tarde sempre chegará o dia em que teremos a certeza de que não foi em vão termos feito, sempre que possível, um pouquinho além daquilo que era nosso estrito dever”. Eles fizeram. E, as novas gerações continuam entrelaçadas, a escrever novas histórias.

Alfredo José dos Santos, o criador do ‘Tiro de Laço’, conforme registro no livro ‘MTG 40 anos – raiz tradição e futuro’ (Foto: reprodução)

Nosso Vaqueano

“O coração está batendo forte”, conta Tio Neco, como carinhosamente é conhecido pelos tradicionalistas. O seu Nelson Martinho Dornelles, 75 anos, vai pela terceira vez representar Venâncio Aires, a 24ª Região Tradicionalista (24ª RT), e leva o nome do Piquete de Tradição (PQT) Sinuelo de Tropa na 33ª Fecars, em Santa Cruz do Sul. Por vídeochamada, Tio Neco, ao lado do filho Anderson Dornelles, esbanjou alegria, contentamento e agradeceu pela saúde, por mais uma vez estar “entre os laçadores das 30 Regiões Tradicionalistas do Rio Grande do Sul”, com o cavalo tordilho, ‘O Dengoso’, que lhe acompanha há seis anos.


Entre risos, Tio Neco conta que começou a laçar de verdade “quando já era quase Vaqueano”. Modalidade que reúne os laçadores acima de 70 anos. Mas reforça que se prepara há décadas nas pistas. Os troféus? nem contabilizou. Estão lá na estante. O que comprovei em 2018, quando o Vaqueano participou da Fecars em Xangri-lá. O último recebido, na modalidade, foi durante a Festa Campeira do Centro de Tradição Gaúcha (CTG) Pousada do Capão, no mês de fevereiro deste ano.

“Quero representar bem a Região, o Município e o Piquete. Se conseguir troféu, muito bom.”
NELSON MARTINHO DORNELLES – Representante – 24ª RT – Sinuelo de Tropa
Fecars 2023 – modalidade Vaqueano (Foto:arquivo pessoal)

Encerramento

Nesta tarde de domingo encerram-se as competições iniciadas. A Capital do Chimarrão está presente com representantes das entidades: PQT’s Sinuelo de Tropa, Sinuelo do Pago, Cavaleiros da Estrada e Piquete Machry. Os participantes de Venâncio Aires, juntaramm-se ao grupo que leva o nome da 24ª RT, nas diversas modalidades.
Entre os competidores está o vice-coordenador da 24ª RT, Vanderlei Kuhn, que defende o ‘Laço coordenador’, em nome da coordenadora, Luce Carmen da Rosa Mayer.

  • Fecars na história
  • Fevereiro/1987: Frontelmo Alves Machado (1937-2019), apresentou proposta ao MTG com objetivo de “unir os gaúchos campeiros em um evento para confraternizar e apurar os campeões estaduais, nas diversas modalidades já realizadas nos rodeios.”
  • Dezembro/1987: Proposta final é apresentada na 26ª Convenção Tradicionalista, em Júlio de Castilhos, por Frontelmo Alves Machado, Wilson Freitas e Cyro Dutra Ferreira. Anteprojeto foi aprovado com o nome de ‘Festa Crioula do Rio Grande do Sul’ – Modificado, em seguida, para Festa Campeira do Rio Grande do Sul (Fecars)’.
  • Março/1989: Realiza-se a 1ª Festa Campeira do Rio Grande do Sul, em Passo Fundo.
  • Março/2015: Santa Cruz do Sul (5ª Região Tradicionalista) sedia a 27ª Fecars, tendo como presidente do MTG, Manoelito Carlos Savaris, e na coordenadoria da 5ª Região, Luiz Clóvis Vieira (em memória)
  • Março/2023: Santa Cruz do Sul recebe a 33ª Fecars, com o presidente Savaris, na liderança do MTG, novamente, e a primeira mulher na coordenadoria da 5ª RT, Marisa Dal’Osto Rossa.

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