Diretor Cultural da 24ª Região Tradicionalista (24ª RT), Jéferson Rogério Valente de Barros, 42 anos, tem mais uma de suas poesias publicadas. Desta feita ela está entre as 168 páginas do livro ‘Autores Luso-Brasileiros 2019’, lançado no dia 19 de novembro, pelo Núcleo Luso-Açoriano de Venâncio Aires, em parceria com o Instituto Cultural Português de Porto Alegre.
Na poesia ‘Dos devaneios de amor aos filhos e a Deus’, Valente de Barros homenageia às raízes do município de Venâncio Aires, então Faxinal dos Fagundes. Durante a confraternização de lançamento, na Capital Nacional do Chimarrão, a poesia foi declamada pela venâncio-airense, Marina Mayer, Prenda da 24ª RT, gestão 2018/19.
Valente de Barros
O escritor, natural de Santa Maria, casado com Tatiane de Oliveira e pai do Henrique e da Lavínia, morador de Lajeado é envolvido com o tradicionalismo desde a infância. Ele tem diversas obras publicadas e premiadas.
No currículo
- Membro do Galpão da Poesia Crioula de Santa Maria, com participação em Antologias da Casa do Poeta de Santa Maria
- Premiado na modalidade Poesia do Encontro de Artes e Tradição Gaúcha (Enart), por três vezes.
- Trabalhos premiados nos Festivais de poesia Querência Amada, de Rolante; Sinos do Verso Gaúcho, de São Leopoldo; Bivaque da Poesia, de Campo Bom
- Participou também da Sesmaria da Poesia, de Osório; da Festa dos Carreteiros, em São Valentim/Santa Maria; do Pelo da Poesia, do Alegrete; e do Festival de Música e Poesia de Vacaria.
Saiba mais
‘Autores Luso-Brasileiros 2019’, tem a coleta dos textos e organização do livro através da venâncio-airense Jaqueline Chaves e do presidente do Instituto Cultural Português, António Soares.
Autores
- Venâncio Aires: Élvis Roberto Chaves Epstein, Évelin Siebeneichler, Gabriela Simone Führ, Gean Paulo Naue, Gustavo Henrique Viana, Jair Luiz Pereira, Jaqueline Richter, João Moacir Laufer Ferreira, Josiane, Beatriz Bergmann, Júlia Chaves Angnes, Kadiny da Silva Hertzer, Maria Rita Marcon, Maria, Zulmira Portella de Moura, Olinda Fagundes de Freitas, Rosmeri Menzel, Selvino Heck, Sérgio Rosa, Sérgio Schaefer, Simone Beatriz Reckziegel Henckes, Valquiria Julia Carlotto, Vera Jorgina, Abech Campo, Vítor Augusto Vogt e Voní Eidt.
- Lajeado: Diógenes Gewehr e *Jeferson Rogério Valente de Barros
- Santa Cruz do Sul: Kethlin Nadine Meurer
- Viamão: Silvana Fraga
- Capão da Canoa: Patrícia Renatha Brufatto
- Porto Alegre: Adélia Einsfeld, Alcione Sortica, Alda Paulina Borges, Antònio Filipe Sampaio Neiva Borges, Elizabeth Remor Krowczuk, Eloísa Rodrigues Porazza, Felipe Daielo, José Moreira da Silva, José Nedel, Jussara Nodari Lucena, Santa Inèze Soares, Sonia Maria Dürchnabel Athayde e João Riel Manuel Hubner Nunes Vieira Telles de Oliveira Brito
- Palmelo (Goiás): Nina Tubino
- Açores (Portugal): Eduardo Agostinho de Paiva Brito Coelho
*Dos devaneios de amor aos filhos e a Deus
A vida se repete.
Em meio ao turbilhão
de pensamentos, sentimentos,
que a imagem provoca,
esta frase é a que perdura.
Mas, por quê?
Por que meu Deus?
A vida se repete,
testando a força e a fé
de quem confiou seu destino
nas mãos da Providência.
Quando avistou o cavalo
com o vulto de seu filho
curvado sobre o animal,
veio de pronto à memória
a história do Capitão.
Ah! O Capitão!
Sangue açoriano nas veias.
Um dos tantos que vieram
pra povoar este chão.
Plantou raízes na terra
e frutificou em filhos
pra seguir sua linhagem.
Pra garantir que a conquista,
da sua plaga sulina,
se mantivesse perene
pelos tempos que viriam.
Mas domar a natureza
é tarefa que derruba
o mais hábil dos ginetes.
Vindo do fundo da mata
o leão baio ataca
e o Capitão desaparece…
Essa era a história de seu avô.
Ao ver o filho voltando
prostrado sobre o cavalo,
em meio ao turbilhão
de pensamentos, sentimentos,
que a imagem provoca,
esta frase é a que perdura:
a vida se repete.
Estranho…
Dez anos de guerra.
Dez anos de lutas e mortes.
A fé como esteio
combatendo as incertezas.
A promessa feita
e o retorno dos filhos.
Ilesos.
São Sebastião fizera a sua parte.
Sob o fogo da metralha em meio a cargas de lanças,
nenhum mal os atingiu.
No Faxinal dos Fagundes
ia surgir uma capela
para honrar a devoção
e as graças alcançadas.
Em torno dessa capela
surgiria um povoado.
Que cresceria pujante
com a força dos que viriam
de aquém e de além-mar.
Almas de Europa se fundiriam
a tantas almas terrunhas,
confiando seus destinos
nas mãos da Providência.
Mas, então, por quê?
Por que meu Deus?
Poupara a vida do filho
durante dez anos de guerra.
Pra que sua mãe o visse
lastimado, como o ancestral,
por uma fera da mata,
novamente um leão baio,
como a mostrar
que domar a natureza
é tarefa que derruba o mais hábil dos ginetes.
Porém, a fé nos impulsiona
a seguir sempre adiante!
A força bruta dos homens
é rocha rasgando a terra.
Mas, como rocha, se quebra
ante os choques da vida.
Os homens se vão pra guerra,
se embrenham pelos sertões,
são ponta afiada de lança
seguindo sempre pra frente.
Mas não são eles que garantem
o sucesso das conquistas…
Tal qual água que contorna
um a um seus obstáculos,
é a força das mulheres
que outorga perenidade
às obras que se fizeram.
Não domam, se fundem à natureza,
pra garantir que suas crias
tenham um lar pra viver.
Foram lançaços de homens
que conquistaram o território.
Foi o abraço das mulheres
que mantiveram meu chão.
Foi sua fé inabalável,
seu maternal desvelo,
seu paciente labor,
que moldou o povoado
em volta da capelinha
de São Sebastião Mártir.
E dentre tantas mulheres,
cujos nomes se perderam,
um nome ainda é lembrado:
Brígida Fagundes do Nascimento.
Pois, pra honrar a devoção
fez erguer uma igreja,
e uma cidade nasceu.