Depois de mais de dois meses fechadas desde início de 2021 devido ao confinamento, as escolas inglesas reabriram para aulas presenciais nesta semana. O ano letivo na Europa é diferente do sistema brasileiro pois inicia em setembro e termina em julho, durante o verão no hemisfério norte. O calendário de férias é generoso, com recessos que variam entre uma e três semanas, a cada seis semanas. Em dezembro os estudantes britânicos tiveram férias de Natal e deveriam ter retornado à sala de aula na primeira semana de janeiro. No entanto, o terceiro lockdown no Reino Unido anunciado justamente uns dias antes da volta dos alunos, impossibilitou aulas presenciais. E assim, a maioria dos alunos continuou os estudos com aulas online, com exceção de filhos de profissionais médicos e trabalhadores na linha de frente e serviços essenciais que podiam seguir indo à escola para que os pais pudessem exercer suas funções vitais durante a pandemia.
Devido às restrições da quarentena que o país inteiro continua a viver, a volta à sala de aula foi em estágios, com cautela, e para os estudantes do ensino secundário, a partir dos 11 anos, o uso de máscara na sala de aula é obrigatório assim como teste contra Covid.
Duas vezes por semana os estudantes fazem o teste rápido na escola, e em caso positivo são submetidos ao teste PCR num dos centros de testagem nacional para confirmar e ficar em isolamento. Esta é a primeira vez que o governo britânico investe na testagem em massa de jovens, disponilizando gratuitamente milhões de testes rápidos aos educandários, seja da rede pública ou particular. Nossa filha Sophia, 15 anos, estudante do colégio interno Stowe, fez o teste rápido no domingo à tarde e depois do resultado negativo pode assim retornar aos estudos no internato. No Stowe, os alunos fazem o teste às terças e quintas. Em caso positivo, o colégio entra em contato com os pais de alunos que possam ter tido contato imediato com o aluno positivado e oferecem o isolamento na própria escola já que o ensino é em regime fechado ou dão a opção de ficar em casa com aulas online até o fim do período de isolamento (10 dias).
O retorno dos estudantes faz parte do cronograma anunciado pelo primeiro-ministro Boris Jonhson em fevereiro. O governo baseou-se em dados científicos do contágio do vírus no país, internações, mortes e o avanço no programa de vacinação, criando um plano de reabertura de quatro etapas com datas específicas. Se aí na terrinha a população reclama do fechamento do comércio durante uma ou duas semanas, aqui não temos o direito universal de ir e vir desde o início da pandemia, e já são mais de seis meses (no total, entre os três confinamentos) com fechamento do comércio não essencial, áreas de lazer, academias, salões de beleza, bares e restaurantes. Quatro estágios da reabertura incluem – dia 8 de março reabertura das escolas com aulas presenciais a todos alunos na Inglaterra, dia 29 de março grupos de seis pessoas podem encontrar-se em área externa, prática de esporte em locais abertos é permitida a partir desta data assim como deslocamentos fora da zona de residência. No dia 12 de abril estão autorizadas a reabrir lojas de varejo não essencial, salões de beleza, academias, bares e restaurantes com áreas externas e terraços. Já no dia 17 de maio está previsto o fim de quase todas as restrições de aglomerações em locais abertos e a rede de hotelaria poderá funcionar normalmente, assim como viagens de férias. De acordo com o cronograma, dia 21 de junho marca o final de todas restrições sociais e os britânicos devem voltar à vida normal com a maioria da população já vacinada.
Entrevista de Harry e Meghan
Esta semana foi tumultuada nos círculos da realeza britânica. A bombástica entrevista do príncipe Harry, sexto na linha de sucessão ao trono britânico, e da esposa, duquesa Meghan Markle no domingo à noite na rede americana CBS, repercutiu mundo afora. Durante duas horas com a entrevistadora mais famosa do mundo, Oprah Winfrey, amiga pessoal do casal, e uma das convidadas do casamento em maio 2018, o casal fez acusações chocantes à família real britânica. Entre elas, racismo, descaso com a saúde mental da duquesa, negação do título de príncipe ao filho Archie e segurança oficial.
Morando há 27 anos aqui na terra da Rainha, eu conheço um pouco da história do país, suas tradições e do poder da mídia, em especial os tabloides que sobrevivem a custa de manchetes sensacionalistas. E assim, minha opinião sobre as revelações devastadoras de Meghan, é baseada no que já vivi e li aqui no Reino Unido, desde 1994. Vale dizer que eu cultivo grande fascínio pela realeza britânica e adoro visitar palácios e castelos para conhecer a história aristocrática do país. Em agosto de 1997 eu chorei com o mundo inteiro a morte da princesa Diana (mãe de Harry) e deixei um ramalhete branco defronte o palácio de Kensington que se transformou num mar de flores. A monarquia britânica é uma instituição milenar e, por natureza, altamente hierárquica. Fazer parte da família real é um privilégio que custa caro, pois eles perdem sua autonomia pessoal e vivem para servir a coroa, em silêncio. Não é uma vida normal! Meghan, talvez, acreditasse que poderia mudar a instituição e transformá-la num circo de hollywood onde seria a princesa idolatrada. E ao se dar conta de que a realidade era bem diferente do conto de fadas que sonhava, decidiu com o marido de abrir mão da vida junto à família real e se mudar para a California nos Estados Unidos. Antes disso, porém, Meghan rompeu relações com pelo menos três secretárias e conselheiras fieis da rainha Elizabeth II, demonstrando seu caráter forte e que provavelmente a distanciou de sua própria família. Príncipe Harry cresceu sabendo que era o número dois, e que seu irmão mais velho William seria um dia o rei do Reino Unido.
Desde jovem o príncipe demonstrava rebeldia com o sistema rígido da monarquia. A imprensa estava sempre a publicar fotos do príncipe fazendo festa em público. Difícil de imaginar a dor sofrida com a perda repentina da mãe, Lady Di, adorada mundo afora, morta em acidente de carro em Paris fugindo de paparazzi. E assim, príncipe Harry cresceu odiando os tabloides britânicos. E esta foi uma das tantas razões pela qual o casal fugiu de seus deveres junto à coroa. A ironia, no entanto, permeia a história do casal, pois se agarraram justamente à exposição na mídia mundial de problemas familiares para ganhar maior notoriedade e popularidade. E, coincidência ou não, logo depois de assinar contratos milionários com Netflix e Spotify. Há quem diga que roupa suja se lava em casa. E eu concordo!