Imagine um vilarejo no alto da colina, recortado por ruelas antigas emolduradas por casarios charmosos com jardins encantadores e cercado por um oásis verdejante. Pois o bairro londrino de Hampstead é bem assim, um poço de riqueza arquitetônica com uma pitada da vida moderna pelos inúmeros cafés, restaurantes, antiquariados, empórios de apetrechos, lojinhas e tantos pubs famosos. Com a reabertura gradual do comércio nesta semana, depois do lockdown de três meses na Inglaterra, aproveitamos para dar uma volta pelas ruas deste bairro de puro charme. Além de aproveitar o retorno à vida normal por aqui, passear em Hampstead é sempre especial para nossa família pois para meu marido, inglês da gema, este pedacinho de Londres guarda muitas lembranças da infância e juventude quando visitava os avós que ali moraram durante décadas.
Hampstead está localizado no noroeste da capital britânica, cercado de muito verde, e ganhou popularidade durante o século XVII devido à descoberta de uma fonte de água mineral, rica em ferro e com propriedades medicinais que na época acreditavam curar males e doenças mentais. E assim formou-se um povoado na região que já era conhecida pelo seu ar puro. Hoje em dia, no entanto, o bairro denota a riqueza londrina, abrigando o maior número de milionários do país, pelas mansões de dois, três até quatro andares espalhadas em cada canto, algumas com valor acima de 20 milhões de libras (mais de cem milhões de reais). Todavia, ao percorrer as ruas do bairro não se percebe ostentação alguma na parte exterior e a arquitetura harmoniosa, tão característica na Inglaterra, destaca fachadas simples e elegantes, com detalhes de outros tempos nas portas e janelas, sem muros ou grades. Muitos dos casarões clássicos mantêm a aparência exterior tal e qual como antigamente mas na parte interna são divididos em apartmentos modernos e luxuosos.
Dizem que se um turista quiser encontrar com um inglês genuíno, basta perambular por Hampstead! Historicamente, o bairro distante quatro quilômetros do centro de Londres sempre foi reduto dos círculos intelectuais da nata da sociedade britânica. Escritores famosos, artistas, maestros da pintura, músicos, atores, bailarinas, arquitetos e tantos outros escolheram Hampstead para morar e continuam até hoje. As casas de residentes famosos do passado são identificadas com placas especiais (azul ou preta) e rapidamente pode-se dar conta da quantidade de nomes ilustres que ali residiram. Entre eles, George Orwell, Charles Dickens, T.S. Eliott, Ian Fleming, Agatha Christie, Daphne du Maurier, Edward Elgar, John Constable (alguns de seus quadros mais famosos retratam paisagens do parque de Hampstead Heath), Sigmund Freud (sua casa foi transformada em museu), John Keats (residência do poeta também se tornou um museu), só para citar alguns entre tantos e tantos outros nomes conhecidos.
Para descobrir este bairro cheio de vida é preciso caminhar, sem pressa, perambulando o emaranhado de ruazinhas, cerro acima, até chegar no maior parque de Londres, no alto da colina de Hampstead Heath, recortado por muitas trilhas, pleno de elevações e desníveis além de inúmeros lagos. Daqui do alto contemplamos o horizonte londrino pontilhado pelas fachadas envidraçadas dos ícones da arquitetura moderna na capital e um local muito usado em filmes e seriados. O passeio por este bairro com cara de vilarejo é tranquilo, passando por livrarias, padarias, barzinhos (muitos continuam fechados pois carecem área externa ou terraço), floriculturas, galerias de arte e tantos brechós. Um passeio longe do burburinho do West End para aqueles que curtem uma mescla de paisagens urbanas e verdejantes, fugindo do roteiro turístico convencional de Londres.
