Na última semana recebi várias mensagens de amigos e familiares perguntando sobre a situação aqui na Europa a respeito da pandemia, principalmente depois do aumento súbito de casos em Venâncio Aires. Vou tentar contar um pouco da minha realidade e da Europa em geral. Há mais de um ano os europeus vem sofrendo diariamente com os efeitos da pandemia. Se a situação era desesperadora no início de 2020 quando na Itália era dado o primeiro alarme, um ano mais tarde os europeus continuam a sofrer tanto quanto no início. Já passamos por três confinamentos e atualmente a Europa inteira está fechada, como um carro blindado, na tentativa de proteger-se contra o inimigo. Um inimigo invisível, com poder de mutação, capaz de ceifar milhões de vidas e que transformou o jeito de viver dos europeus e do mundo inteiro.
A grande maioria dos países europeus fechou todo o comércio durante pelo menos três meses no último ano. Uso de máscara tornou-se obrigatório seja em lugares fechados ou na rua. Em alguns países a segunda quarentena perdura desde novembro de 2020, como é o caso da Lituânia, onde funcionam somente supermercados e farmácias e qualquer tipo de aglomeração é proibida. O medo maior fica por conta das novas variantes, mais contagiosas. Distanciamento social é levado à sério aqui enquanto trabalhar de casa é a regra! Nos últimos doze meses eu desempenhei minhas funções na embaixada trabalhando de casa. E assim como eu a maioria de funcionários públicos, e empresas privadas, transformaram a sala ou um quarto de casa em escritório. Na Inglaterra, desde o início de janeiro a população vive o terceiro lockdown, e o comércio permanece fechado, incluindo ai salões de beleza, academias, bares, restaurantes, rede de hotelaria e lojas em geral. A reabertura está prevista em quatro fases, com o retorno à sala de aula no início de março e abertura do comércio em abril, concertos e férias em maio. Somente a partir de 21 de junho é que o país voltará à vida normal, de acordo com o pronunciamento do primeiro-ministro Boris Jonhson nesta semana.
Os governos europeus estão bancando os empregados impossibilitados de trabalhar e autônomos, como cabelereiros, faxineiras, massagistas, artistas e tantos outros. Na Inglaterra, o subsídio cobre 80% do salário normal do empregado. Em outros países, como Alemanha, é 100%. Eu conheço várias pessoas que estão impossibilitadas de trabalhar devido ao fechamento de certos segmentos (como academias e teatros) desde abril do ano passado mas continuam recebendo seu salário. Os governos europeus estão endividados, como nunca antes, investindo no setor de saúde e pagando a conta astronômica da pandemia.
Durante todo este período de infecções e mortes o grande foco de investimento foi a vacina. Em dezembro passado o Reino Unido fez história, administrando a primeira vacina na senhora Margaret Keenan, de 90 anos. Desde então os britânicos já vacinaram mais de 30% da população adulta. O programa de vacinação segue um plano por grupos prioritários por idade, diferente do Brasil onde classes ocupacionais são privilegiadas, independente do idade. Vejo no Brasil jovens de 20 e 30 anos sendo vacinados enquanto seus pais, com maior risco de complicações e morte, continuam na espera pela vacina. Aqui a política do governo prioriza dados e como já foi comprovado que a população mais idosa corre o maior risco de hospitalização são eles que estão na frente da fila.
O Reino Unido é um dos países mais avançados em termos de vacinação contra a Covid19. Uma das vantagens na implementação do plano de vacinação é sem dúvidas o sistema nacional de saúde (NHS) com cadastro central de todos pacientes e com hospiais e postos de saúde espalhados por todo país. Os ingleses foram precursores na saúde pública em 1948 criando o NHS e oferecendo atendimento gratuito a toda população. O SUS do Brasil foi inspirado no NHS britânico. Os britânicos não pagam um centavo em consultas com médicos, hospitais e exames. E não precisam de convênio particular para receber atendimento de qualidade. Com um sistema de cadastro centralizado ficou bem mais fácil para o país planejar a vacinação da Covid. O contato é através de mensagens por telefone our por carta e os centros de imunização são todos locais. Eu devo receber minha vacina nas próximas semanas quando retorno para Inglaterra. A meta do governo é vacinar todos os adultos até 31 de julho. Enquanto o programa de vacinação anda a passos largos, o índice de mortes no território britânico, por outro lado, demonstra um dos balanços mais trágicos da pandemia, com mais de 120 mil óbitos por Covid19. Em números absolutos, é a maior cifra da Europa e a quinta maior do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Brasil, México e Índia.
Os europeus sonham com um verão normal, sem máscaras e sem restrições de movimento, curtindo férias no litoral ou na montanha. A esperança está na vacinação, que até agora continua sendo distribuída em conta-gotas nos países da União Europeia. Esperar para ver!