A Itália não é apenas conhecida por sua gastronomia, com massas deliciosas e pizzas tradicionais. A península italiana, famosa pela forma de bota no mapa europeu, é deslumbrante do norte ao sul, leste e oeste, desde os vilarejos pitorescos debruçados em penhascos até os grandes centros urbanos, fascinantes e recheados de história, como Roma, Florença, Milão e a icônica Veneza . Considerado como a pérola do Mediterrâneo, o território italiano transpira exuberância na orla litorânea com algumas das praias mais lindas da Europa.
Neste finalzinho de verão aqui no velho continente aproveitamos para curtir a região central da Itália, entre montanhas e mar, de férias com a família. Voamos de Riga para Roma e depois de três dias revivendo e relembrando alguns dos momentos mais felizes da minha vida na capital italiana – durante quatro anos moramos em Roma e onde nasceram nossos filhos mais velhos – continuamos nossa viagem em direção à costa do mar Adriático. Já comentei aqui que adoro viajar de trem e, é claro que durante as férias em família, não perderia a oportunidade de passear deslizando pelos trilhos ferroviários italianos. Num passeio inesquecível, fomos de trem até Pescara na região de Abruzzo.
Retornar a esta belíssima região é presentear a alma, contemplando da janela um espetáculo divino, orquestrado pela natureza viçosa, relevo irregular e monthanhas. A viagem de trem em si se transforma numa experiência incrível. À bordo da locomotiva da companhia nacional italiana apreciamos a paisagem verdejante lá fora encobrindo vales até chegar no mar Adriático.
De um lado, o maciço montanhoso e do outro, cascatas cristalinas jorrando energia, respingando sem parar na vegetação abundante. No horizonte, entre uma montanha e outra, sob o sol forte de agosto, pequenos vilarejos despontam nos picos, como se estivessem abraçando o céu, denotando uma beleza irresistível. Quase impossível imaginar a vida moderna nestas aldeias distantes e isoladas no interior da Itália.
A região de Abruzzo é assim, misteriosa e tranquila mas ao mesmo efervescente, de forte cultura, com vários festivais folclóricos, transpirando história em seus vilarejos charmosos que remontam a séculos passados. Torres, castelos e fortificações medievais fazem parte da paisagem estonteante. Nada menos que quatro parques nacionais e mais de 30 reservas naturais estão localizados nesta zona central da Itália, sendo considerada a região mais verde da Europa. Durante nossas férias fizemos um percurso fantástico, a pé, caminhando pelo parque nacional da Maiela, contornando falésias e desfrutando o ar fresco da montanha na companhia de amigos italianos de longa data.
A viagem de trem de Roma terminou no centro de Pescara, na costa do mar Adriático e nosso destino final. Esta é outra razão pela qual eu prefiro viagens de trem. As estações são geralmente centrais, facilitando o deslocamento. Em Pescara foi assim, mal saímos do trem, e já estávamos na zona pedonal da avenida principal, emoldurada por palmeiras e coqueiros e vista lá no fundo para o mar Adriático. Pescara é uma cidade litorânea plena de charme com praias maravilhosas, de areia dourada e água cristalina. A cidade foi parcialmente destruída durante a 2ª Guerra Mundial. Embora algumas construções imponentes e antigas, a arquitetura moderna é predominante em toda cidade. È um local tranquilo, bem arborizado e com as ruas do centro transformadas em calçadões, sem acesso a carros.
Durante o verão a costa do Adriático fica lotada de veranistas. A orla é limpa e muito bem organizada com fileiras de quiosques e guarda-sóis além de várias opções de bares e restaurantes à beira-mar. A praia de Pescara é bem equipada, onde os veranistas pagam para usufruir da sombra e conforto na areia branquinha. Aqui ninguém traz guarda-sol e cadeira para praia. A sofisticada estrutura balneária, com restaurante, vestiários, quadras esportivas e parque infantil, desempenha um papel intrínseco ao modo de vida dos italianos que não renunciam a comodidade para curtir a dolce vita durante os meses estivos. Esta tradição de alugar um pedacinho da praia, delimitando território num espaço que na verdade não deveria ter proprietário denota uma confraternização bem bacana entre as famílias veranistas. E na companhia de amigos queridos saboreamos uma boa dose do “dolce far niente” italiano, curtindo em família a doce arte de não fazer nada.