Frescor primaveril em Londres

Depois das incontáveis semanas sombrias e geladas do início do ano, aqui na Europa, o mês de abril desponta no calendário como uma gota de esperança, uma luz no fundo do túnel. Com o programa de vacinação da Covid seguindo a todo vapor no país, os ingleses começam a sonhar com uma vida normal nos próximos meses. A partir de segunda-feira, 12 de abril, o comércio reabre suas portas, depois de três meses de lockdown, quando somente supermercados e farmácias permaneceram abertos ao público. Bares e restaurantes com áreas ao ar livre ou terraços também voltam a funcionar. A chegada da primavera coincide com a segunda etapa do cronograma de reabertura do país. Em meados de maio inicia a próxima fase, quando deve reabrir a rede de hotelaria e os ingleses poderão sair de férias.

Embora na última semana tivemos até neve por aqui, com temperatura oscilando entre 22 graus um dia e -2 no dia seguinte, nesta época a penumbra cinzenta típica do clima frio se despede do território europeu. Se durante quase cinco meses sobrevivemos a dias gelados e de ventania, a partir de agora saudamos o ar adocicado da primavera pincelando o horizonte com um colorido extraordinário. Sob o céu azul de março e abril, como num toque de mágica, a natureza se desperta do sono profundo e transforma a paisagem lá fora num espetáculo de vida. O ar primaveril se encarrega de revestir as imperfeições do inverno, criando cenários florais encantadores. Os dias agora são mais longos, escurece pelas oito da noite e o céu azul resplandece durante o dia. Depois de tanto tempo sem curtir o sol, a chegada da primavera no velho continente simboliza muito mais que uma simples troca de estação.

A primavera por aqui traz renovação e um joie de vivre inimaginável a quem está acostumado a acordar todos os dias com o calor dos trópicos. Enquanto as agruras do inverno gelado deixam marcas impregnadas e tangíveis no nosso jeito de ser, a magia primaveril se encarrega de ofuscá-las, salpicando o ar com fragâncias agradáveis, confirmando que cada ciclo tem sua razão de existir. Os ingleses adoram atividades ao ar livre e durante a pandemia a caminhada se tornou um dos poucos exercícios físicos que poderíamos fazer pois clubes e academias ficaram fechados durante boa parte dos últimos doze meses.

Pelos parques londrinos, o frescor primaveril é palpável. O horizonte muda de cor. As árvores vão aos poucos retornando ao poderio viçoso formando corredores floridos de puro esplendor. Os primeiros sinais da primavera despontam nos gramados e bosques próximos dos riachos com o desabrochar das campanulas brancas (snowdrops em inglês). Estas singelas flores do campo são acolhidas pelos britânicos com grande festa. Afinal de contas, é tempo de celebrar um novo ciclo. É tempo de sentir o frescor primaveril acariciando a pele do rosto. Esta época é marcada pela renovação – a cada semana uma nova transformação. Das campanulas, campos de narcisos, bosques cobertos de florzinhas azuis (bluebells em inglês) aos magníficos canteiros de tulipas, vamos sendo diariamente presenteados com espetáculos primaveris.

Nesta semana, de volta à Inglaterra por alguns dias, eu também saudei a nova estação caminhando por trilhas do interior além de curtir o meu parque favorito em Londres – Regent’s park. Pois chegou a hora de tirar os casacões. É hora de sair ao ar livre, caminhar, pedalar, sentar na grama e deixar-se abraçar pelo frescor primaveril. Embora as restrições da pandemia, desde o final de março grupos de até seis pessoas podem se encontrar ao ar livre e assim os parques londrinos ficaram lotados, todo mundo em busca de uma boa dose de vitamina D, esparramados pelos gramados. Situado no noroeste da capital, cobrindo área de 197 hectares, o Regent’s park é um gigante recheado de suavidade. Pelos arredores do parque encontram-se palacetes neoclássicos em estilo georgiano emoldurados pelas árvores floridas nesta época. Londres é uma capital verdejante, com a zona central marcada por ruas residenciais de casarios antigos o que a diferencia da maioria das capitais europeias onde blocos de apartmentos predominam. Os bairros de Londres são bem demarcados, mesclando arquitetura antiga e moderna, e durante a primavera uma caminhada pelas ruas e parques da capital se transforma num passeio irresistível.