O mês de julho é sempre recheado de emoção e nostalgia pois foi num dia gelado de inverno no sul que em 1994 parti da minha terrinha. Há 28 anos fazia minha primeira viagem para a Europa. Há quase três décadas eu embarcava para uma viagem de estudos, para aprender inglês em Londres. Uma viagem de um mês que se transformou numa vida pois nunca mais voltei a morar em Venâncio Aires, minha terra natal. Em 1994 assisti ao Brasil vencer a Copa do Mundo, naquela final dramática, de pênaltis, e inesquecível para mim pois pela primeira vez comemorava a vitória brasileira num país estrangeiro. Celebrei a conquista à moda canarinho, em meio a outros conterrâneos que tinha conhecido no curso de inglês, buzinando e gritando pelas ruas. Mais tarde aprendi que os ingleses raramente fazem desfiles ou buzinaços para festejar as vitórias esportivas.
Minhas primeiras semanas naquele verão inglês ensolarado de 1994 foram intensas, curtindo os parques floridos e verdejantes, imersa na cultura britânica. Minha adaptação ao novo país foi rápida e fulminante, estudando inglês e trabalhando como au-pair (babá), uma experiência de vida fantástica pois não apenas aprendi a língua mas vivi o cotidiano junto a uma família inglesa. Pela primeira vez morava fora do Brasil, longe dos meus pais e irmãos e dos amigos queridos. Na época nunca imaginava que 28 anos mais tarde continuaria a viver no país da Rainha. Não imaginava que o inglês se tornaria minha língua no trabalho e em casa.
Durante estas quase três décadas na Europa minha bagagem cultural extrapolou. Viajei. Viajei muito. E continuo a viajar! Meus primeiros anos na Inglaterra foram marcados por viagens de trem inesquecíveis, com mochilão nas costas e mapas na mão, conheci praticamente toda Europa assim, me aventurando continente afora. E tudo sem internet! Eu usava um guia de viagem que se tornou minha bíblia com páginas enrrugadas no final de tantos roteiros. É claro que nem sempre tudo saia como planejado e o espírito da minha juventude da época me consentia a improvisar. Tudo era diversão. Tudo era aprendizado para a jovem de 25 anos. Mandava cartões postais para os amigos contando em poucas linhas tudo que vivia e sentia. Toda semana escrevia longas cartas para a família e amigos do Brasil. Era, na verdade, uma terapia que ajudava a conter o coração saudoso.
Hoje em dia parece bem mais fácil viajar e muitas vezes já conhecemos os lugares antes mesmo de visitá-los, através do mundo de imagens, videos, blogs e vlogs online. Durante os anos 90 conheci o leste europeu emergindo do regime soviético, quando Praga, Budapeste e Varsóvia não faziam parte dos roteiros de turismo de massa. Em Praga, era possível caminhar pelas ruelas antigas sem esbarrar em turistas sem nenhuma lojinha de souvenirs à vista. Transporte público era gratuito e nos restaurantes reinava a culinária local. Minha estadia na Europa abriu as portas para minha família também viajar no velho continente. Foram tantos passeios maravilhosos com meus pais Asuir e Milita, minha mana Sandra e meu irmão Ricardo conhecendo diversas regiões da Europa.
Após alguns anos morando na Inglaterra adquiri proficiência na língua inglesa e quando estava cursando um pós-graduação em Business o destino quis que eu encontrasse aqui minha alma gêmea, o amor da minha vida. Já estava encantada com o país e agora me apaixonava por um gentleman britânico. Juntos formamos nossa pequena família, abençoada por três filhos – Victoria e Patrick nascidos em Roma e a nossa caçula Sophia que nasceu na Inglaterra. Meu esposo, Simon, é diplomata e por isso continuamos até hoje viajando mundo afora. Nossa casa é na Inglaterra mas através do Ministério do Exterior britânico, a quatro anos somos transferidos para outro país. E assim os capítulos vão se fechando enquanto novos desafios vão aparecendo. A adaptação por vezes é difícil mas o enriquecimento cultural supera qualquer obstáculo. Para mim é sempre um privilégio poder viver e conhecer a cultura de outros países. Adoro mudanças e renovação. Nestes 25 anos juntos já moramos na Itália, em Roma, durante mais de quatro anos; dois anos em Tripoli, Líbia; quatro anos em Paris, França. De 2013 a 2015 moramos em Minsk, capital da Bielorrússia e atualmente estamos em Vilnius, na Lituânia. A partir de agosto iniciamos um novo ciclo em Riga, capital da Letônia.