Desde a primeira vez que visitei os canteiros floridos espalhados pelos rincões da Inglaterra há quase três décadas, fiquei deslumbrada pela jardinagem inglesa e continuo acreditando até hoje que os jardins ingleses são mágicos. Escondido entre estradinhas sinuosas no meio da paisagem rural da região de Cotswolds, no coração da Inglaterra, o jardim de Hidcote Manor é uma joia preciosa, pincelando magia no horizonte. Nesta semana voltei a visitar este oasis colorido localizado no vilarejo de Hidcote, entre as cidades de Stratford-upon-Avon (onde nasceu o poeta e dramaturgo William Shakespeare) e Chipping Campden, no condado de Gloucestershire. Considerado um dos jardins mais encantadores do país, Hidcote denota poesia no mundo das flores, uma obra de arte cravejada no esplendor da natureza.
Esta obra de arte foi criada no início do século XX pelo colecionador de plantas e paisagista, Lawrence Johnston. Em 1907 ele adquiriu a propriedade rural de Hidcote Manor e ali iniciou seu sonho de criar um jardim campestre num espaço formal. Pioneiro em sua visão de jardinagem, ele transformou os campos ao redor da mansão rural numa área dividida em “aposentos verdes”, usando plantas e cercas vivas além das árvores para separar cada área. Johnston trabalhou durante quatro décadas no projeto, trazendo plantas e folhagens de todo mundo, mas somente depois de 1948, quando a propriedade foi doada à Fundação Nacional de Patrimônio Público do Reino Unido, que o jardim se concretizou na forma de hoje.
Disperso numa área de quatro hectares este paraíso de flores entrelaça a mansão de Hidcote, caracterizada pela arquitetura típica da região de Cotswolds em pedras cor de mel e com decoração interior marcada pela mobília, tapeçaria e obras de arte de outros séculos. O jardim é fonte de inspiração a jardineiros e paisagistas de todo mundo. Hidcote é, na verdade, uma coleção de pequenos jardins, distintos, com sua própria identidade, recortados por alamedas perpendiculares emolduradas por ciprestes e arbustos. Do jardim das rosas, de topiarias, flores do campo, das bordas avermelhadas até a exuberância das vitórias-regias, é impossível escolher o mais lindo.
Ao caminhar neste labirinto de pérolas perfumadas, a sensação é de estar navegando num cenário de conto de fadas, embalada pela sinfonia de cores vibrantes espalhadas pelos canteiros abundantes. Em cada espaço, entre uma arcada verde e outra, caminhos sinuosos revelam pequenos jardins secretos, acrescentando charme aos maciços verdejantes. Renques de pétalas mimosas adornam estátuas e chafarizes, enquanto folhagens viçosas e elementos naturais criam paisagens campestres. Um passeio pleno de magia e inspiração nestes jardins encantadores. Um espetáculo divino, a ser contemplado vagarosamente, saboreando a profusão de fragâncias que paira no ar. Eu adoro a simplicidade paisagística deste jardim repleto de linhas graciosas e coloridas despontando no horizonte. Os jardins ingleses arrancam suspiros. Eles são perfeitos e despretensiosos, aproximando a imperfeição natural de terrenos acidentados à grandiosidade das pétalas coloridas. O melhor período para visitar o jardim de Hidcote é nesta época do ano, durante o verão europeu, entre junho e agosto, quando as flores parecem sorrir pra gente, no auge de seu esplendor.
