Entre estradinhas sinuosas e campos de plantações no coração rural da Inglaterra, encontra-se a histórica mansão de Sulgrave. Situada no vilarejo de mesmo nome, a mansão retrata um forte elo entre dois grandes países – Estados Unidos e Reino Unido. O vilarejo de Sulgrave remonta ao ano de 1086 quando a primeira construção foi registrada no local e mantém até hoje sua característica rural com casinhas de pedra cor de mel e telhado de capim, tipicamente inglesas. A mansão está situada num cantinho do vilarejo, com vista para as colinas e campos de pastagens.
Ao chegar na mansão percebe-se logo a união de duas culturas tão diferentes. A arquitetura medieval inconfundível do período tudoriano contrasta com a bandeira americana. A modesta mansão, na verdade, poderia passar desapercebida ao caminhar pelas trilhas do interior não fosse a estátua gigante em bronze de George Washington no jardim. Despretensiosa em sua construção, Sulgrave esbanja história pois foi edificada pelo quinto bisavô do primeiro presidente americano.
Antes de entrar na mansão passeamos pelo jardim tipicamente inglês recheado de canteiros coloridos e gramados bem aparados além de uma quintal com macieiras centenárias, nesta época em plena floração criando uma paisagem primaverial encantadora. Ao entrar na mansão voltamos rapidamente no tempo nos ambientes escuros com mobília de madeira e vários quadros. Um deles se destaca na parede do quarto do andar superior. É de uma mãe com semblante sombrio e severo. É o retrato de Mary Ball, a mãe de George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos.
Ele pode ter sido o primeiro chefe de Estado e fundador do novo país, mas não foi o primeiro Washington a comprar terras, propriedades, exercer altos cargos ou viver com riqueza; na verdade, seus antepassados provaram que bem longe, do outro lado do Atlântico, esse jeito de viver já existia na família.
Nos anos de 1500 quando o Brasil recém tinha sido descoberto, Lawrence Washington – quinto bisavô do primeiro presidente americano, se uniu a uma família nobre e, em poucos anos, passou de servo a burguês comerciante de lã e parte da nobreza latifundiária inglesa. Pois no condado de Northamptonshire ele conheceu a esposa e iniciou a construção da mansão em 1539, onde os onze filhos nasceram e cresceram. No pórtico de entrada da mansão percebemos os símbolos de riqueza da época com o triângulo representando ovelhas e lã e o brasão da família com três estrelas e que segundo alguns historiadores, teria servido como inspiração para a bandeira da maior potência do mundo.
Na verdade, a fidelidade de Washington aos monarquistas acabou por forçá-lo a deixar a Inglaterra e emigrar para os Estados Unidos. A mansão de Sulgrave permaneceu na família Washington por três gerações. Em 1602, no entanto, o bisneto de Lawrence, reverendo com mesmo nome, se aventurou para o outro lado do oceano e assim iniciou a história da família em solo americano. O casarão pertenceu a outros latifundiários durante dois séculos mas caiu em desuso no início do século XX. Em 1914, um comitê especial comemorando cem anos do tratado de paz assinado pelos dois países retomou a mansão e através de alto investimento, tanto público quanto privado, a mansão foi totalmente restaurada e hoje em dia serve como museu e está aberta à visitação do público.
Todos ambientes contam um pouco da história daqueles que ali viveram e em especial da família Washington. Podemos mergulhar no passado medieval do salão principal com uma lareira gigante debruçada para a mesa imponente de madeira, passando pela sala de estar, cozinha até chegar no quarto no andar superior com a cama de dossel adornada por bordados requintados típicos do período Tudor. Sob o teto pontiagudo coberto de vigas, um baú de madeira maciça com vários motivos esculpidos servia como guarda-roupa já que na época não existiam. Visitar o casarão de Sulgrave significa voltar no tempo e demonstra a importância de preservar a história e cultura sem destruir construções mas restaurando cada detalhe para que assim as futuras gerações possam também conhecer a vida no passado. E neste quesito de preservação da história a Inglaterra é referência mundial, pois aqui quase nada pode ser destruído e tudo é conservado. E o mundo agradece!