Durante cinco décadas a Letônia era uma das repúblicas parte da ex-União Soviética vivendo sob o regime comunista. A política de Stalin de transferir habitantes da Rússia para as repúblicas fez com que quase um terço da população de algumas cidades da Letônia, entre elas a capital Riga, seja de origem russa e fale russo. A história do país, no entanto, carrega a riqueza medieval em suas veias. Na capital ou pelo interior encontram-se marcas de um passado riquíssimo seja pelos palácios, castelos, igrejas ou ruínas . Com pouco menos de dois milhões de habitantes, a Letônia é minúscula comparada à maioria dos estados brasileiros. Sua riqueza cultural, no entanto, é imensa com vilarejos pitorescos e arquitetura grandiosa, principalmente em Riga.
A Letônia é um país pequeno e pode ser visitado facilmente de carro. Algumas cidades contam com estação de trem mas o meio de transporte mais usado é o rodoviário. E foi assim que no último fim de semana viajamos para o nordeste da Letônia para conhecer a cidadezinha de Cesis. Situada a 90 km de Riga, à beira do parque nacional de Gauja, este vilarejo de pouco menos de 15 mil habitantes está entre os mais antigos do país. Nossa viagem pelas estradas retilíneas típicas dos países bálticos foi tranquila, atravessando as densas florestas de pinho, costeando o mar Bático e inúmeros lagos. Ao chegar na cidadezinha fomos acolhidos por um céu azul e calorzinho atípico para a região norte da Europa. O centro histórico de Cesis transpira charme pelas ruelas estreitas emolduradas por casinhas antigas, recortando a cidade até chegar na praça da igreja luterana, com construção original que remonta a 1290 e ponto de encontro da comunidade, onde antigamente acontecia a feira de animais e produtos agrícolas. Durante o século XIII, Cesis era a capital da Livônia e mais tarde se tornou uma importante cidade comercial hanseática na região. Era o paradouro dos comerciantes no caminho de Riga para Tartu e Tallinn mais ao norte. Devido às guerras e incêndios restam poucas construções originais e a maioria dos palacetes são do século XVIII e XIX.
O Castelo de Cesis é a grande atração da região. Situado no centro da cidadezinha no meio de um parque enorme, este ícone da Letônia carrega muita história em suas paredes dilapidadas. Construído em 1209 pela Ordem da Livônia e pelos cavaleiros teutônicos o castelo floresceu como uma das fortificações mais importantes para os livônios e ao longo dos séculos as colunas foram fortalecidas. Sua história de ocupações e guerras é palpável ao visitar as ruínas do castelo. Durante a guerra da Livônia em 1577, os russos tomaram conta da fortificação. As 300 pessoas dentro do castelo ao invés de serem derrotados e capturados pelo inimigo, explodiram o castelo com pólvora. Durante a visita guiada conhecemos um pouco da história das mulheres e filhos que se escondiam no porão mas que acabaram morrendo junto com todos outros moradores do castelo. Mais tarde a guerra polonesa-sueca e a grande guerra do Norte danificaram ainda mais o castelo, acabando em desuso. Em 1830, a propriedade do castelo pertencia à família von Sievers, quando construíram um palácio residencial completamente novo e um parque em torno das ruínas do antigo castelo que passou a ser propriedade cultural da Letônia. Os dois locais foram transformados em museus.
Hoje em dia, a maior parte do castelo continua em ruínas com algumas câmaras restauradas além da torre principal, abertas para visitação. No alto da torre contemplamos uma vista esplêndida da floresta de pinos de um lado e do outro, os telhadinhos vermelhos do vilarejo de Cesis. Em uma das câmaras no topo da torre os visitantes podem aprender sobre a história do castelo, século por século, numa instalação luminosa imersiva bem bacana. O clima medieval se destaca em torno do castelo com grupos em trajes de época. Pelo pátio encontramos fornos de barro, hortas, brinquedos rudimentares de madeira além de algumas oficinas de artesanato bem interessantes. Conversamos com um dos entusiastas de história medieval e artesão especializado em criações de osso, como dados e peças usadas nos jogos antigos. No atelier recheado de ferramentas de madeira dezenas de artigos que eram usados na idade medieval são agora recriados, mantendo acesa a história do passado.