O mês de setembro marca o final do verão europeu e a volta às aulas para milhões de estudantes. No norte do velho continente, onde o inverno é longo e gelado, algumas instituições iniciam em meados de agosto para os alunos terem um recesso durante a estação do frio. No entanto, na Inglaterra, onde meus filhos estudam, o retorno à sala de aula acontece tradicionalmente na primeira semana de setembro e termina em meados de julho. Depois de quase dois meses de férias curtindo o calorzinho agradável de verão, os estudantes recomeçam mais um ano letivo no início do outono por aqui. Neste ano, entretanto, o calor perdura no nono mês do ano e nesta semana a Inglaterra viveu o dia mais quente do ano, com a temperaturas acima de 30 graus caracterizando um setembro bem atípico por aqui.
Na Inglaterra, neste ano, a volta às aulas foi marcada por polêmica e que está provocando uma guerra política no Parlamento Britânico. A rede televisiva BBC publicou uma reportagem constatando um problema estrutural em dezenas de escolas públicas. Ao todo, são mais de 100 estabelecimentos e muitos destes permanecem parcialmente fechados. O motivo é o risco na estrutura dos prédios, construídos ou reformados, entre as décadas de 1950 e início de 1990, com concreto aerado auto clavado, material mais barato e fácil de instalar. A qualidade, porém, é inferior e a vida útil do concreto é de até 30 anos. Para evitar o risco, muitas escolas isolaram algumas salas ou auditórios construídos com o material causando transtorno aos alunos e professores. O problema se transformou numa bate-boca político acirrado já que os conservadores, no poder há 10 anos, se recusam a aceitar responsabilidade pelo problema argumentando que muitos dos estabelecimentos foram construídos durante o governo dos trabalhistas.
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Problemas políticos à parte, a volta às aulas é sempre cheia de emoção. Na última semana de agosto percebe-se a correria das famílias para comprar uniforme e calçados, pois aqui o uniforme é obrigatório em todas escolas. E não se restringe só a uma camiseta e abrigo. Por aqui o uniforme tem que ser completo, dos pés à cabeça! A partir dos onze anos os meninos usam gravata e camiseta e as meninas vestem saia e blazer. O calçado deve ser preto e anatômico. Para nossa família este reinício das aulas foi repleto de nostalgia. Pois nossa filha caçula, Sophia, retornou ao Colégio Stowe onde estuda desde os 13 anos, para completar seu último ano no curso de A-Level, equivalente ao ensino médio no Brasil.
Para ingressar no ensino médio A-Level os estudantes ingleses tem que ter demonstrado capacidade intelectual nos exames de GCSE, obrigatório a todos alunos do 10º ano. De acordo com os resultados destas provas os estudantes podem escolher a próxima fase de estudos. A grande maioria segue no curso de A level (nível avançado), equivalente ao ensino médio no Brasil mas bem mais focado na preparação para universidade, onde os alunos estudam no máximo quatro matérias com ensino aprofundado e carga horária de pelo menos 8 aulas semanais em cada disciplina. No final do curso de dois anos os estudantes ingleses prestam novamente exames nacionais de A-level que vai garantir a vaga na faculdade (ou não, dependendo do aproveitamento do aluno!).
Na Inglaterra não existe vestibular, nem provas específicas para entrar em determinada universidade. As vagas são distribuídas de acordo com os pré-requisitos de cada curso da universidade e claro, dos resultados obtidos nas provas de A-level de cada aluno. Por exemplo, um estudante que pretende cursar Direito, irá escolher matérias da área de Humanas no curso de A-level como preparação pois a maioria das faculdades requer estas disciplinas. O processo de escolha de faculdade inicia um ano antes de o estudante prestar os exames nacionais através de um portal nacional (UCAS) onde aluno faz seu cadastro e os professores validam a inscrição e atualizam o aproveitamento do aluno em sala de aula. Os estudantes fazem também uma carta de motivação explicando porque ele é o candidato ideal à vaga, destacando suas habilidades e áreas de sucesso, tanto acadêmico quanto esportivo. Cada estudante escolhe até três universidades onde pretende estudar. A vaga é garantida somente quando são publicados os resultados dos exames nacionais.
O retorno aos bancos escolares é sempre recheado de emoção principalmente para os mais pequenos, iniciando nas séries iniciais. Para os estudantes do curso avançado no colégio interno de Stowe, este recomeço significa também novas responsabilidades pois estão agora no nível superior do colégio que conta com mais de 900 alunos. Os estudantes do Sixth Form – como é conhecido o ensino médio na Inglaterra – fazem parte do diretório do colégio com tarefas específicas além de lideraram as assembleias estudantis. Eles vestem uniforme diferente do resto das alunos. Enquanto o sistema de internato permanece o mesmo com os alunos divididos em repúblicas seguindo uma rotina diária intensa com aulas e prática esportiva diária, aos fins de semana os alunos do Sixth Form podem confraternizar no barzinho do colégio com música ao vivo, danças e bebidas.
