Depois de três semanas maravilhosas curtindo as festas de final do ano com a família e amigos sob o calor tropical, estamos de volta ao território europeu. A acolhida desse lado do oceano não poderia ter sido mais contrastante! Pois saímos de Venâncio Aires com temperatura em torno de 35 graus e chegamos aqui em Vilnius sob um frio congelante de -10 graus Celsius. A sensação térmica era ainda mais baixa, ultrapassando a geleira de qualquer freezer comum. Nesta época do ano em que os brasileiros estão aproveitando as férias de verão, por aqui a melancolia de janeiro bate à porta. O início do ano em toda Europa é quase sempre triste e contundente. Sol brilhando se transforma em artigo de luxo no primeiro mês do ano na Lituânia.
Banhada pelo mar Báltico no norte da Europa, a Lituânia é um país pequeno com população esparsa e em declínio. Esta nação guerreira tem território modesto, coberto por florestas e lagos, com extensão quatro vezes menor que o estado do Rio Grande do Sul! Mas é, sem dúvida, interminavelmente mais gelada que as terras gaúchas. O inverno no norte europeu é bem mais longo do que no resto do continente. Nos países do Mediterrâneo, por exemplo, o inverno chega a ser agradável de tão curto! A grande diferença está na duração, pois por aqui vivemos pelo menos quatro meses ininterruptos de frio congelante (de novembro a meados de março). Temperaturas negativas – dia e noite – são padrão enquanto a neve é presença absoluta, cobrindo as imperfeições da natureza e transformando o horizonte num manto branco resplandecente. Aqui neva bastante em janeiro, principalmente de madrugada. Lagos e rios congelam. E para sair na rua é preciso estar bem agasalhado. Ou seja, vestindo casacões longos e forrados com botas com solado antiderrapante, manta, touca e luvas de couro impermeáveis.
Uma das vantagens do clima invernal aqui é dentro de casa, ninguém passa frio no aconchego do lar. A grande maioria das moradias são construídas com isolamento térmico e calefação distribuída por todos cômodos. Muitas casas, em especial as mais antigas, contam com lareiras. As janelas são geralmente duplas ou até mesmo com vidro triplo garantindo vedação completa. Em apartamentos mais modernos o aquecimento interno, incluindo piso e assoalho, é padrão. Pelo interior do país, as residências mais tradicionais contam sempre com uma sala especial para sauna (seca e a vapor), muito usada pelos lituanos nos meses invernais.
Janeiro é um mês pardo na Lituânia. A iluminação natalina que irradiou tanta energia durante dezembro desaparece repentinamente enquanto o entusiasmo contagiante da decoração de Natal e vitrines cintilantes vai se dissipando, dando lugar ao desalento. Invariavelmente os europeus se deparam com a melancolia de janeiro (January blues, como os ingleses gostam de dizer) e assim para muitos o primeiro mês é considerado o mais deprimente do ano. Estamos no auge do inverno e o clima gelado acentuado pela falta de luz natural acaba atingindo o comportamento e humor das pessoas.
Na bruma dos dias cinzentos de janeiro os lituanos iniciam o ano sem muita euforia ao contrário dos brasileiros que depositam esperança no novo ano! Neste mês, infelizmente, aumenta o número de suicídios no país, que apresenta uma das taxas mais altas do mundo. Se durante o mês de dezembro a contagem regressiva para o Natal contagiava a todos, transpirando alegria em cada canto do país, em janeiro a melancolia toma conta. É incrível perceber a mudança no semblante lúrido da população. Não se vê muita gente na rua, com os dias ainda curtinhos, amanhecendo depois das oito e escurecendo pelas três da tarde, o povo parece hibernar durante as semanas geladas e infindáveis de janeiro. E a espera penosa pela tão sonhada primavera continua…
LEIA MAIS:
