Neste período turbulento na região do leste europeu, principalmente nos países vizinhos, a Lituânia vive os respingos de incerteza provocados pela ameaça de guerra militar entre a Rússia e a Ucrânia além dos ataques híbridos orquestrados pela Bielorrússia, aliados russos. A Lituânia faz parte das Repúblicas Bálticas, no norte da Europa, dividindo fronteiras com a Letônia, Bielorrússia, Polônia e com o enclave de Kaliningrado, pertencente a Rússia. Esta proximidade geográfica coloca o país em situação de risco, principalmente a capital Vilnius, localizada à 50km da fronteira bielorrussa. Com pouco menos de três milhões de habitantes, a Lituânia é uma nação pequena, bem menor que a maioria dos estados brasileiros tanto em área física quanto em população. A história lituana, no entanto, remonta ao tempo em que o Brasil sequer tinha sido descoberto. Durante mais de um século o país viveu sob a sombra da Rússia, periodo em que a cultura lituana foi massacrada e a nação russificada. E assim, não nos surpreende que a independência do Império Russo é motivo de grande comemoração entre os lituanos.
Nesta semana, na quarta-feira 16, o país inteiro foi às ruas para reverenciar a pátria amada e comemorar a independência. Todos os anos o dia 16 de fevereiro é recheado de eventos. Pois em 1918, nesta data simbólica e feriado nacional, o país declarava sua independência do Império Russo. Já comentei aqui na coluna várias vezes sobre a história incrível deste país. Desde o início de sua história lá nos tempos pagãos, os lituanos sempre lutaram pela própria identidade e pela liberdade. Devido às ocupações múltiplas, a república báltica comemora duas datas para marcar a independência – 16 de fevereiro e 11 de março, ambas feriado nacional. A primeira, denominada “restauração da independência” – pois a Lituânia fora um país independente desde o século XIII, data esta também comemorada com feriado, no dia 6 de julho e a segunda, quando o país se libertou do regime comunista soviético em 1990.
O feriado no meio da semana foi marcado por apresentações e alguns pronunciamentos. O principal de todos, em frente ao prédio onde foi assinada a proclamação de independência em 1918. Foi só então que a Lituânia conseguiu juntar forças para se livrar do domínio russo ainda que antes disso já existissem muitos movimentos nacionalistas no país. Rússia e Alemanha estavam enfraquecidas pela Primeira Guerra Mundial e a Lituânia aproveitou o momento para se libertar. A Alemanha, no entanto, havia ocupado a parte ocidental do Império Russo no início da guerra, e esperava que a Lituânia e outros territórios caíssem sob a influência política germânica. A proclamação foi enviada à Alemanha que reconheceu a independência da Lituânia. O país iniciava assim um novo capítulo reconstruindo suas raízes e que na verdade durou pouco. Pois em 1940 a Lituânia foi anexada à União Soviética durante a segunda guerra mundial vivendo outro período sombrio em sua história.
A jovem democracia de hoje veio, finalmente, com a independência da URSS, há apenas três décadas e o preço da liberdade foi alto, ceifando vidas e deixando marcas que podem ser percebidas ainda hoje. Desde então, o país vem reconstruindo sua estrutura democrática, como uma nação próspera, espelhando-se nos países escandinavos e distanciando-se -de uma vez por todas – dos vizinhos russos. Os lituanos detestam qualquer ligação à cultura russa e não gostam de serem associados ao leste europeu. A história do país permeada por múltiplas ocupações russas seja talvez a razão de tal adversidade.
Com as restrições da pandemia desaparecendo rapidamente e a entrada livre ao país, até mesmos não para os não vacinados, os lituanos vão aos poucos retornando à vida normal. Nesta semana, mais uma vez, observamos o orgulho patriota desta nação guerreira. As ruas de Vilnius ficaram lotadas de gente vestida de amarelo, verde e vermelho, as cores da bandeira lituana. Em cada esquina bandeiras tremulavam para comemorar os 104 anos de independência do Império Russo. A comemoração culminou com uma vigília de lanternas e fogueiras na avenida Gediminas, uma das principais no centro de Vilnius.
LEIA MAIS:
Clima de euforia para os 70 anos de reinado da monarca britânica
