A definição do significado de uma galeria de arte vem sendo transformada nas últimas décadas trazendo novos conceitos e revolucionando a maneira como nós vivemos o mundo das artes. Com o extraordinário avanço tecnológico ao qual praticamente o mundo inteiro faz parte hoje em dia, não nos surpreende as mudanças digitais que vivemos no dia a dia.
O mundo das artes além de acompanhar este avanço digital está inovando a forma como apreciamos as obras de arte. A capital britânica abraçou a era digital em todas esferas mas em especial do campo artístico. Que Londres é um poço de riqueza artística e referência no assunto, todo mundo sabe. No entanto, a maneira como a metropólis londrina vem inovando no setor é simplesmente incrível. O mais novo projeto na capital britânica “Londres sem Moldura” (do inglês, Frameless London) traz uma proposta artística arrepiante, sem tela alguma e onde o visitante praticamente mergulha nas obras de grandes mestres da pintura como Monet, Turner, Klint, Picasso, Canaletto entre outros. Nesta semana fomos conferir de perto o novo conceito de arte visual multissensorial e imersiva.
Localizada próxima do Arco de Mármore, no finalzinho da Oxford Street e rua comercial mais famosa do país, a nova galeria faz parte de um projeto arrojado de constante renovação da região, atraindo investimento público e privado. Logo na chegada somos acolhidos por muitas luzes e cores projetadas do chão ao teto. O tema psicodélico continua na descida de dois andares pela escada rolante até chegar no subsolo onde se encontra a exposição, em quatro ambientes diferentes com projeções variando entre 10 e 25 minutos.
“Londres sem Moldura” destaca obras-primas clássicas de uma maneira ímpar, multissensorial e jamais vista na capital, sendo a primeira exposição permanente de artes digitais imersivas de Londres. Nossa visita inicia no salão de obras renomadas de Rubens, Turner, Cezanne, Canaletto, Friedrich, entre outros, destacando o mundo ao nosso redor. Ao entrar na maior sala da galeria sem molduras, a sensação é de estarmos retornando na história pois somos imersos nas famosas paisagens verdejantes, urbanas e marítimas dos grandes artistas. A cada projeção, a música nos conduz à contemplação tridimensional, com tudo se movendo, como se estivéssemos sendo arrastados pelo mar na obra de Turner ou apreciando a piazza San Marco dentro do cenário da pintura de Canaletto.
No ambiente seguinte somos transportados ao mundo além da realidade, que é exatamente isso. Espelhos, luzes e um arranjo musical tocante nos levam para viajar fora da galeria, como se estivéssemos levitando para o mundo das próprias pinturas. Há momentos em que a sensação é de estar flutuando na composição de O Sonho, de Rousseau ou caminhando pelo deserto com Os Elefantes, de Salvador Dali. Na projeção gigante do famoso O Grito, de Edvard Munch, observamos ângulos alternativos da obra-prima. Na sala seguinte, destaca-se a arte abstrata convidando os espectadores a percorrer um labirinto de cores, texturas e formas geométricas. A quarta, e última exposição, foi provavelmente a mais supreendente. Aqui mergulhamos no mundo colorido dos impressionistas do século XIX e XX, imersos num conto de fadas recheado de pigmentos flutuando no chão e pelas paredes. A sensação é de estarmos pincelando a paisagem à medida que as conhecidas obras de Monet, Van Gogh, Seurat e Morisot, entre outros, ganhavam vida ao nosso redor. Uma visita impressionante, sem sentir o tempo passar.
Além da incrível experiência multissensorial foi também interessante observar a reação dos outros visitantes, alguns sentados ou deitados no chão observando o movimento das pinturas enquanto as crianças dançavam e corriam na caça pelos pontilhados luminosos no solo.