O último fim de semana de outubro marca o final do horário de verão em toda Europa e por isso o mês de novembro na região do mar Báltico é um período de dias curtos, com pouca luminosidade. Anoitece pelas três da tarde e o frio bate à porta, trazendo temperaturas abaixo de zero. É um mês que passa devagar, sob a chuva intermitente roçando a paisagem sombria. Novembro é tingido de tristeza pois o esplendor alaranjado do outono se transforma rapidamente no horizonte, dando lugar à natureza morta, monocroma e sem flores. E talvez seja por isso que na Europa nesta época as luzes e enfeites de Natal começam a brilhar. Em Londres, por exemplo, a decoração natalina traz muita alegria nas primeiras semanas de novembro. Por aqui, no entanto, a iluminação natalina ainda não apareceu pois o mês de novembro para os letões tem significado profundo. É na verdade um período onde o país inteiro se reúne para agradecer e honrar a pátria.
Se no resto da Europa o décimo primeiro dia de novembro é comemorado pelo fim da 1ª Guerra Mundial em 1918, aqui a data é marcada por homenagens aos soldados letões que perderam suas vidas lutando pela independência da nação em 1919. Neste dia, em Riga, o exército letão subjugou as tropas da Guarda Branca alemã e russa sob o comando de Bermont e libertou a margem esquerda do rio Daugava. A vitória sobre o exército bermontiano possibilitou que a recém-conquistada independência da Letônia sobrevivesse. É uma data simbólica onde a população inteira relembra aqueles que abnegadamente deram suas vidas para que a Letônia pudesse existir. Em todas cidades, em especial aqui em Riga, ao anoitecer do dia 11 todos os anos acontece um desfile de tochas e uma multidão se desloca até as margens do rio e acendem velas vermelhas em torno do castelo de Riga, bem perto onde o conflito se deu fim, para agradecer pela liberdade que vivem hoje.
Para um país que passou dois séculos sob o domínio do Império Russo e cinco décadas no regime soviético, honrar a pátria faz parte da identidade dos letões. Na verdade, os três países bálticos dividem um passado sofrido e por isso, observa-se aqui grande patriotismo, simbolizado pelas cores da bandeira de cada país. A bandeira da Letônia é bordô com listra horizontal branca e muitas vezes o emoji da flâmula letã é usado na mídia social no Brasil para representar o time de futebol do Inter enquanto que a bandeira listrada da Estônia em azul, preto e branco é usada quando falam da equipe do Grêmio. A Letônia é uma jovem nação independente mas sua bandeira é uma das mais antigas do mundo e remonta à idade medieval quando fora usada pelas tribos livonas durante uma batalha em 1279.
No mês de novembro as cidades se revestem de vermelho e branco pois avenidas, prédios e praças ostentam um dos símbolos mais importantes do país. Prédios icônicos de cada cidade recebem iluminação especial para comemorar duas importantes datas neste mês cinzento e molhado. Nas lojas e supermercados bandeirinhas, broches, mantas, toucas e dezenas de lembrancinhas nas cores vermelho e branco enchem as prateleiras nesta época.
Pelas ruas a população mostra o amor à pátria com um pequeno broche na lapela do casaco. A decoração de Riga conta ainda com vários painéis destacando a cultura pagã até hoje cultuada pelos letões de motivos simbólicos das estrelas. Espalhadas por toda cidade as imagens de peças de tecelagem letã são caracterizadas pelos motivos celestiais para proteger as almas do mal, como acreditavam os antigos.
Hoje 18 de novembro, feriado nacional na Letônia dá direito à folga na segunda-feira pois é regra para feriados que caem no final de semana. O país comemora a independência do Império Russo neste feriadão gelado. Neste ano uma extensa programação cultural e artística faz parte dos festejos de 105 anos de independência, com desfile cívico, concertos, festival de música e folclore além de shows pirotécnicos. E assim o fim de semana se torna menos sombrio aqui no norte da Europa e os preparativos para o Natal iniciam nas próximas semanas para nos alegrar.