Historicamente a região sul da capital britânica sempre foi marcada pela pobreza às margens do rio Tâmisa. Moradores do “outro lado do rio” pagavam taxas pesadas para atravessar a ponte de Londres e vender seus produtos no centro da cidade durante a idade medieval. As condições esquálidas dos bairros londrinos da região sul são descritas em muitas obras literárias de Charles Dickens, durante o período vitoriano. Hoje em dia no entanto, esta região que abrigava a maior zona portuária do mundo, é referência em renovação urbana. Na verdade, desde o início dos anos 90 as margens do Tâmisa vem sendo transformadas em distritos alternativos e bem populares.
Desde que conheci Londres pela primeira vez lá no início da década de 90, a linha do horizonte londrino se renovou totalmente contando atualmente com mais de quinhentos edifícios de grande altura. Londres está acostumada a transformar bairros pobres em zonas urbanas de alta qualidade que viram atração na cidade. A primeira dessas grandes transformações foi nas docas do Tâmisa, com a criação do distrito de Canary Wharf em 1990, e hoje em dia um dos maiores centros financeiros da Europa com conexão da nova linha de metrô Elizabeth. Londres sediou as Olímpiadas de 2012 e o maior legado ficou para a população do leste da capital, onde a vila olímpica foi transformada num bairro incrível com infraestrutura perfeita para famílias com filhos pequenos e adolescentes com blocos residenciais bem planejados, parques, escolas e área comercial que continua a expandir.
Hoje em dia, a história se repete do outro lado do rio, com a criação do mais novo bairro da capital britânica. Entreleçada pelos distritos de Battersea e Vauxhall, esta vasta área da margem sul do rio Tâmisa passou por uma transformação inédita, tornando-se um dos maiores programas de regeneração do país. A região conhecida como Nine Elms (Nove Ulmeiros) – devido às árvores na beira da estrada -, foi transformada num distrito repleto de opções culturais, restaurantes, praças, hoteis e um centro comercial gigante. A peça principal do projeto de revitalização é a antiga central de energia Battersea Power Station, que já chegou a fornecer um quinto da eletricidade da capital. A usina de energia elétrica foi construída na década de 1930 com duas chaminés e mais tarde em 1950 outras duas chaminés foram acrescentadas. A construção ´se transformou num ícone londrino depois que foi fechada em 1983 e serviu de cenário para filmes e seriados, além de aparecer na famosa capa do álbum Animals, do Pink Floyd.
Num projeto arrojado e assinado por WilkinsonEyre, renomada firma de arquitetos, a transformação da antiga central elétrica levou quase dez anos para ser concluída e foi financiada com investimentos bilionários de um grupo empresarial da Malásia. A renovação é de tirar o fôlego com a estrutura gigantesca que um dia produzia eletricidade para boa parte da capital britânica agora transformada num vasto centro comercial, dividido em duas zonas, com mais de cem lojas, dezenas de restaurantes, escritórios, cinema, apartmentos, além do elevador 109 que leva os visitantes ao topo de umas das chaminés proporcionando uma vista formidável do sul de Londres. Vários elementos originais, como cabos de aço, paineis e a sala de controle foram restaurados e mantidos para relembrar aqueles que estão fazendo compras sobre o passado marcante desta imponente construção.
Blocos residenciais foram construídos em torno da usina com apartamentos de luxo seguindo um plano diretor restrito já que nada em torno da usina pode bloquear a vista das chaminés brancas. Um hotel de luxo, bares, cafés e restaurantes de chefes renomados completam as opções gastronômicas em torno da central elétrica. A estação de metrô foi totalmente renovada com várias conexões para o centro de Londres. Gramados e jardins floridos em torno da antiga usina se transformam em áreas de lazer perfeitas para curtir so dias longos e ensolarados desta época do ano na terra do rei Charles.
