Museu ao ar livre destaca a arquitetura do interior da Letônia
Museu ao ar livre destaca a arquitetura do interior da Letônia

Num pontinho bem distante dos trópicos, banhada pelo mar Báltico, encontra-se a Letônia, uma das repúblicas bálticas localizada no norte da Europa. Enquanto Riga atrai a maior concentração demográfica, as regiões do interior do país são praticamente desertas. A força rural da Letônia, no entanto, é tão importante quanto as start-ups que prosperam na capital. Durante séculos a Letônia foi dominada por regimes imperialistas e passou de mão em mão, dos teutônicos através da poderosa Liga Hanseática, Reino Sueco e Império Russo até o início de 1900. Além, é claro, de ter feito parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS durante cinco décadas , até 1990 quando o país resgatou sua independência novamente. Esta história de progresso comercial, luta e sofrimento no campo está retratada em cada cantinho do país.

A 12km do centro de Riga, hoje em dia pode-se viver um pouco da realidade do campo dos outros tempos, graças ao Museu Etnográfico ao Ar Livre da Letônia. Escondido entre o lago Jugla e uma densa floresta de pinheiros, encontra-se um dos maiores e mais antigos museus ao ar livre da Europa preservando a história do campo. No último fim de semana, quando a neve deu uma trégua por aqui e o sol voltou a raiar por algumas horas, aproveitamos para caminhar e descobrir os segredos da vida do campo na Letônia. Neste parque gigantesco no subúrbio da capital encontram-se 118 construções históricas representando Riga e as regiões do país: Kurzeme, Vidzeme, Zemgale e Latgale. Cada região apresenta arquitetura típica com casinhas, estábulos, galpões, escola, igrejas, saunas e outras construções do interior, retratando a realidade da época. No parque de mais de 86 hectares viajamos no tempo, do vilarejo de pescador dos anos 1700 na beira do lago aos moinhos que delineavam a paisagem do campo da Letônia.

Propriedades contavam com moinhos

Recortado por trilhas bem sinalizadas, o museu ao ar livre foi criado inicialmente em 1924, e é além de um passeio agradável, no meio do verde, uma maneira de conhecer as tradições e folclore letão pois em cada região artesãos criavam trabalhos manuais incríveis, desde artigos de cerâmica, ferro, madeira e linha os quais vendiam ou decoravam os lares. As principais construções estão abertas aos visitantes com informações nas línguas letã, inglesa e russa. Ao entrar nas casinhas dos agricultores de antigamente mergulhamos num mundo bem diferente das fazendas de hoje em dia. A decoração interior por vezes lembrava a casa dos meus avós no interior de Venâncio, com utensílios de madeira, como gamelas, espátulas e o tradicional forno à lenha. Muitas casas não tinham assoalho, e com a mobília toda de madeira tornava os ambientes escuros. É difícil de imaginar uma vida fácil para os colonos da época, no longo inverno letão, sob temperaturas negativas durante seis meses do ano. Ao invés de carroças, eles usavam trenós especiais para carregar a colheita, feitos de toras, parecidos com aqueles que assistimos em desenhos animados ou nos filmes de Natal! A maioria das construções espalhadas pelo parque é caracterizada pelo telhadinho de palha, janelas pequenas e vigas de madeira. Na região de Latgale percebe-se a influência russa na arquitetura exterior e interior. Um templo ortodoxo de madeira era o centro do vilarejo, e dentro das casas a devoção dos agricultores pode ser vista nos quadros de santos ortodoxos e no cantinho da sala transformado em altar, com lampião e enfeites bordados.

Armazém de Liepaja remonta a 1697

Mais adiante, no distrito de Kuldiga percebe-se novamente a força da religião disseminada pelos alemães quando Riga era um polo mercantil. A igreja luterana da congregação Renda, construída em 1705 era o ponto central do vilarejo e onde a comunidade se reunia para os cultos semanais, celebrações familiares, batizados, casamentos e funerais. No pátio, encontra-se um palanque com uma guilhotina e onde eram anunciadas as multas aos produtores que estavam devendo para o Estado. Um ponto surpreendente senão sinistro em torno da igreja, representando a cultura cruel da época. Em cada região percebe-se a importância da terra na vida cotidiana. Os agricultores seguiam rituais usando fogo e água, a cada nova estação. Espalhados pelo parque encontram-se balanços de madeira representando o folclore letão pois em cada propriedade rural tinha um balanço rústico de madeira (sem cordas) que era decorado com fitas, flores ou galhos secos, de acordo com a nova estação. Os homens da terra acreditavam que quanto mais alto ia o balanço, maior seria a colheita daquela safra. Durante nossa visita ao museu nós também brincamos num dos balanços e por alguns minutos viajamos no tempo, cercados por estábulos de madeira de outros séculos na imensidão da floresta de pinheiros refletindo nas águas plácidas do lago Jugla.

Igreja luterana construída em 1705