“Ser ou não ser, eis a questão” ( To be or not to be, that is the question, em inglês) é uma das frases mais conhecidas de William Shakespeare, recitada por Hamlet durante o monólogo da primeira cena do terceiro ato na peça homônima produzida em 1602. Tal questionamento encaixa-se perfeitamente nos dias atuais a ponto de esquecermos que sua criação deu-se há quatro séculos pela mente brilhante de Shakespeare, considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Nesta semana o dramaturgo inglês teria comemorado 457 anos, nascido em 23 de abril de 1564 quando o Brasil mal tinha sido descoberto. No pacato vilarejo de Stratford-upon-Avon, no condado de Warwickshire, bem no coração da Inglaterra, Shakespeare cresceu entre sete irmãos, sendo o primeiro filho homem de John e Mary Shakespeare.
A casa onde nasceu o ilustre poeta continua tal e qual como em 1564, embora sua fachada tenha sido reformada em 1857, e hoje em dia transformada em museu aberto ao público. Neste centro cultural pode-se viajar no tempo aprendendo toda história do escritor. Antes mesmo de entrar na residência, visitantes são convidados a um mergulho no passado absorvendo cada detalhe da exposição das grandes obras do poeta e painéis destacando a árvore genealógica da família. Um curta-metragem contando um pouco da vida inglesa do século XVI cria o preâmbulo perfeito à visita da casa do escritor.
Se atualmente a cidade de Stratford-upon-Avon vive do turismo em torno do teatro e da vida de seu filho mais famoso, na época em que Shakespeare nasceu o vilarejo dependia da agricultura e das feiras rurais. Enquanto o pai do escritor era luveiro, a mãe mantinha várias propriedades rurais na região, herdadas da família. A renda dos alugueis, somada ao comércio de luvas, garantia à família boas condições financeiras na época. O exemplo está na residência onde nasceu Shakespeare. Uma construção sólida, de dois andares, e com um jardim encantador. Os aposentos remetem ao passado distante com piso de pedra original no andar térreo. O quotidiano da família está retratado em cada cômodo. Na cozinha, aves empalhadas e fatias de pães representam a culinária da época.
No piso superior encontra-se o quarto onde o dramaturgo nasceu, decorado como se estivéssemos nos anos de 1500, com a cama dos pais sem colchão, apenas cordas e o bercinho de madeira ao lado. A casa onde Shakespeare cresceu com seus sete irmãos tinha apenas dois quartos, uma sala e cozinha pequena, enquanto a sala mais espaçosa era ocupada pela oficina de luvas do pai. Seguindo a tradição da época, como filho homem, Shakespeare frequentou uma escola rígida, com aulas de latim que duravam até 12 horas ao dia. Seu dia na escola iniciava cedo, pelas seis da manhã até o final da tarde. Acredita-se que Shakespeare tenha deixado os estudos aos 13 anos devido a dificuldades financeiras da família. O educandário situa-se a poucas quadras da casa do poeta e está aberto ao público.
O legado de Shakespeare transcende a esfera literária. Em suas 38 peças teatrais, entre comédias românticas, tragédias, dramas, poemas e sonetos ele foi uma fábrica de vocábulos e expressões da língua inglesa. É praticamente impossível falar inglês sem o citar. Ele usou mais de 20 mil vocábulos em suas obras, cerca de 1.700 continuam em uso na língua inglesa. Acredita-se que ele tenha criado as palavras combinando termos, mudando substantivos para verbos e acrescentando prefixos e sufixos. Alguns exemplos de vocábulos ingleses usados diariamente e atribuídos a Shakespeare – bedroom (quarto), eyeball (globo ocular), mortifying (humilhante;degradante), puke (vomitar), hurry (apressar), fashionable (na moda). William Shakespeare foi o homem certo, no lugar certo e no momento certo da história!