De maneira geral, o primeiro mês do ano é o mais difícil para os norte-europeus. Janeiro é marcado por tempestades de neve, clima gelado, estradas cobertas de gelo vitrificado e escuridão na Letônia. Tristeza. Breu profundo. A falta de luz nas primeiras semanas do ano é um dos fatores mais marcantes para aqueles que moram nos países bálticos. Aqui em Riga, nesta época amanhece pelas nove da manhã e pelas três da tarde a iluminação pública nas ruas acende sem discrição. São dias curtinhos, sombrios e intermináveis.
Durante o Natal e Ano Novo vivemos dias gelados, com sensação térmica de -18 graus Celsius – bem mais frio que a geleira de qualquer freezer comum. Nesta época do ano em que os brasileiros se deliciam no litoral curtindo as férias de verão, por aqui a melancolia de janeiro bate à porta. O início do ano em toda Europa é quase sempre desanimado. Sol brilhando se transforma em artigo de luxo no primeiro mês do ano na Letônia e países vizinhos.
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O inverno por aqui, além de longo, pois inicia em novembro e termina lá em março, é muito frio. As praias do mar Báltico, à 20 minutos de Riga ficam congeladas com a orla toda branquinha coberta de neve. Para quem acredita que no sul do Brasil temos inverno rigoroso, basta passar um janeiro no norte da Europa para entender a diferença do frio congelante daqui e ai no Brasil. Sobrevivemos à temperatura negativa o tempo todo, dia e noite. E muita neve principalmente de madrugada. Lagos, rios e até a beira mar congelam, formando no horizonte paisagens de tirar o fôlego. E para sair na rua é preciso estar bem agasalhado. Ou seja, vestindo casacões longos e forrados com botas com solado antiderrapante, manta, touca e luvas impermeáveis. Quando a temperatura baixa drasticamente como aconteceu no último fim de semana (-25o C), o governo letão envia alertas à população recomendando a todos evitar de ficar na rua por mais de 30 minutos devido ao risco de queimaduras nas partes do corpo expostas ao frio congelante, geralmente o rosto.
Janeiro além de gelado é também um mês sombrio em termos de dados estatísticos para as três repúblicas bálticas. O inverno glacial e escuridão carrega consigo índices de suicídio alarmantes. Entre os países da União Europeia, a Lituânia lidera com 18,5 suicídios para cada 100 mil habitantes (dados de 2021) enquanto na Letônia os dados apontam para 15,6. O indíce de mortes no trânsito também aumenta nesta época na Letônia, especialmente durante as festas do final do ano, devido ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Os letões adoram beber vodca e muitos dirigem bêbados. Em Riga, no final do ano a polícia autuou dezenas de motoristas embriagados. A lei, no entanto, é severa e prevê apreensão da carteira do motorista e do carro em casos mais graves ou de morte. Os veículos confiscados e em boas condições são doados ao governo da Ucrânia.
Se na rua a sensação é de estar caminhando numa câmara fria, dentro de casa ninguém sente frio! E esta é talvez uma das maiores diferenças entre o inverno do sul do Brasil e daqui. A calefação assegura o aconchego no lar e nos estabelecimentos fechados. A grande maioria das moradias são projetadas com isolamento térmico e aquecimento em todos ambientes. Muitas casas, principalmente as mais antigas, contam com lareiras. As janelas são geralmente duplas ou até mesmo com vidro triplo garantindo vedação total. Em apartamentos mais modernos o aquecimento interno, incluindo piso e assoalho, é padrão. Pelo interior do país, as residências mais tradicionais contam sempre com uma sala especial para sauna (seca e a vapor), muito usada pelos letões nos meses invernais.
O primeiro mês do ano é considerado o mais deprimente nos países bálticos. A euforia das comemorações natalinas desaparece repentinamente e um sentimento de desalento paira no ar. Durante algumas semanas do primeiro mês do ano a prefeitura de Riga tenta trazer um pouco de luz à população. Nas principais praças e parques são montadas algumas instalações luminosas para disseminar um pouco de cor no horizonte cinzento de janeiro. O início do ano aqui não apresenta a mesma alegria do povo brasileiro que deposita esperança no novo ano. O novo ano aqui – de fato – inicia com a primavera, lá em maio!
