O estado do Rio Grande do Sul (RS) enfrentou, em 2024, o maior desastre climático de sua história. Em maio, mais de 80% dos municípios foram severamente afetados pelas chuvas, algo antes inimaginável. No entanto, é impossível não se indignar com o que está acontecendo no restante do país.
Além dos inúmeros focos de incêndios, as demais regiões do Brasil enfrentam uma seca severa, com impactos profundos tanto nas grandes cidades quanto no interior. Um meio-termo parece não existir entre as diferentes regiões: chuva para alguns, seca para outros. Por ironia do destino, em fevereiro de 2020, escrevi uma coluna falando exatamente o contrário: seca no RS e chuvas torrenciais na região Sudeste.
Os incêndios que atingem grande parte do Brasil causam prejuízos à saúde, à economia e ao meio ambiente. A fumaça já cobre 60% do território nacional, algo assustador. O RS está diretamente ligado ao que ocorre na Amazônia. A umidade que se origina na floresta amazônica pode chegar ao estado num fenômeno conhecido como “rio atmosférico”. Normalmente, quando há seca lá, há chuvas aqui e vice-versa. Num contexto de desmatamento, a floresta perde sua capacidade de capturar a umidade do Atlântico, impactando o regime de chuvas em toda região sudeste da América do Sul.
Quanto aos desmatamentos, a sociedade não teria evoluído da forma como a conhecemos sem a derrubada das florestas virgens. Mas, agora, faz sentido continuar suprimindo áreas naturais? O avanço do conhecimento agronômico permite elevar a produtividade agrícola sem a necessidade de desmatar novas áreas. A intensificação dos sistemas produtivos pode reduzir a necessidade de exploração de novas áreas. É possível recuperar áreas já degradadas e incorporá-las ao sistema produtivo. A longo prazo, a recuperação de áreas degradadas continua sendo a melhor opção, trazendo benefícios para a proteção da biodiversidade e dos recursos hídricos.
A agricultura vem sofrendo com estiagens recorrentes nos últimos anos. O RS convive há anos com secas prolongadas. Apesar disso, o uso da irrigação avança lentamente no estado. Historicamente, em sete de cada dez anos há algum comprometimento do potencial produtivo das lavouras devido às questões climáticas.
Eventos extremos sempre ocorreram, no entanto, o problema é que estão se tornando cada vez mais frequentes. Não podemos deter as grandes chuvas nem evitar a pior das estiagens. Secas e enchentes continuarão a ocorrer, aqui e em todo lugar. No entanto, com planejamento, podemos mitigar danos eventuais. É lamentável que o tema tenha sido tão politizado nos últimos anos. Várias soluções não têm nada a ver com política, mas com ciência, gestão eficiente e a conscientização sobre a importância da preservação.