Mudanças climáticas no Rio Grande do Sul

O estado do Rio Grande do Sul vive, neste momento, o maior desastre climático da sua história. Num contexto de mudanças climáticas, o aquecimento exacerbado das águas do Oceano Pacífico, característico do El Niño, acaba por alterar o regime de chuvas em muitas regiões. O excesso de chuvas registrado no RS em 2023 também foi um reflexo direto deste fenômeno. No entanto, outros fatores acabaram por agravar as condições meteorológicas em 2024.

Além de termos um El Niño muito forte este ano, nos deparamos com uma condição de baixa pressão no estado devido à chegada de uma frente fria. A alta pressão presente no restante do país criou um bloqueio atmosférico que não deixou essa frente fria subir. As nuvens então estacionaram no estado com precipitações elevadas para um curto período de tempo. Desta vez, mais de 80% dos municípios do estado foram severamente afetados, algo antes inimaginável.

As pessoas normalmente relacionam o aquecimento global e mudanças climáticas a catástrofes. No entanto, isso é apenas a ponto do iceberg. O aumento da temperatura dos oceanos que intensificou o El Niño e criou um sistema de alta pressão na região central do país não é algo de hoje. Esse aumento vem acontecendo gradualmente, com inúmeras implicações. Não é algo de imediato. Não vamos dormir numa condição e acordar em outra. Da mesma forma, não há uma solução mágica do dia para a noite.

Além dos impactos diretos já vistos, há inúmeros efeitos indiretos associados às mudanças climáticas, desde a poluição do ar à incidência de determinadas doenças. A dengue é um exemplo clássico. Há uma correlação direta entre o aumento da transmissão comunitária de dengue com o fenômeno El Niño. À medida que os termômetros sobem junto ao volume de chuvas, o RS se torna cada vez mais receptivo ao Aedes aegypt.

Além disso, o RS está diretamente relacionado ao que acontece na região da Amazônia. A umidade que sai da Amazônia pode chegar ao RS num fenômeno conhecido como “rio atmosférico”. Normalmente, quando há seca lá, há muitas chuvas aqui e vice-versa. Num contexto de desmatamento, a floresta desmatada deixa de capturar a umidade do Atlântico, impactando o regime de chuvas de todo o sudeste da América do Sul.

Vale ressaltar que secas e enchentes continuarão a existir, aqui e em todo lugar. No entanto, o que se discute é a intensidade dos eventos. Uma pena que o tema tenha sido tão politizado nos últimos anos. Por exemplo, sistemas inteligentes de monitoramento e alertas de inundação eficazes são soluções que não têm nada a ver com política. Enfim, diante de tanta tragédia, o que nos conforta é ver tanta solidariedade. Nessas horas, percebemos que o número de pessoas boas no mundo é muito maior. Somos um povo resiliente e continuaremos sendo.

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