Venâncio Aires - O calendário avança e, com ele, entramos oficialmente naquela fase do ano em que os finais de semana deixam de ser sinônimos de descanso para muitos jovens, passam a ser dias de prova, de expectativa, de porta de escola cheia de pais apreensivos e de sonhos sendo postos à prova, literalmente. É tempo de vestibular.
E, como acontece todos os anos, junto desse momento tão decisivo surgem novamente algumas perguntas inevitáveis: até que ponto os pais devem e podem ajudar seus filhos nessa etapa? E mais: quando o apoio começa a se transformar, sem que ninguém perceba, em pressão?
A verdade é que não existe manual. Não existe fórmula. Cada família se constrói de um jeito, cada jovem vive esse processo de uma forma diferente, e cada pai e mãe carrega consigo a intenção mais sincera de ver o filho bem. Mas é justamente aí que mora a delicadeza da situação.
Muitos pais, movidos pelo amor e pelo desejo de garantir um futuro seguro para o filho, acabam tomando para si responsabilidades que pertencem ao jovem. Tentam escolher a profissão, definem metas rígidas, criam expectativas altíssimas ou repetem, ainda que sem querer, discursos de comparação: “Olha o filho de fulano”, “Na minha época era mais difícil”, “Você tem tudo para passar”.
E embora essas frases pareçam motivadoras, para quem está do outro lado elas podem soar como um lembrete constante de que falhar não é uma opção.
O ponto é que o vestibular já é, por natureza, um momento de grande pressão. É a primeira vez que muitos jovens sentem o peso de uma decisão que parece maior do que eles mesmos. É como se a vida inteira dependesse de algumas horas dentro de uma sala. E quando, acima disso, eles carregam também a responsabilidade de não decepcionar ninguém, a ansiedade se multiplica e o desempenho, muitas vezes, diminui.
Mas então o que fazer? Afastar-se? Deixar o jovem totalmente sozinho? Também não.
O segredo está no equilíbrio. É ser apoio, não cobrança. É mostrar que o futuro não se resume a uma única prova. É compreender que cada pessoa descobre seu caminho no seu tempo. Pais podem e devem conversar sobre possibilidades, ajudar a organizar a rotina, incentivar momentos de descanso, oferecer um espaço onde o estudante possa falar sobre medos sem ser julgado. Podem ajudar, sim, mas sem tomar o volante da vida do filho.
E sabe qual é o papel mais importante? Talvez o mais simples de todos: estar ali. Presença, escuta e confiança. Dizer: “Eu acredito em você, independentemente do resultado”. Dizer: “Você não está sozinho”. Dizer: “Existem outros caminhos, outras portas, outras chances”.
No fim das contas, o vestibular passa. Os resultados passam. A angústia passa. Mas a maneira como pais e filhos caminham juntos nesse processo, essa, sim, permanece. E pode fortalecer, ou machucar. Pode aproximar, ou afastar.
Que neste ano, mais do que nunca, cada família encontre o seu melhor jeito de apoiar. Que os jovens consigam respirar, confiar e seguir. E que os pais se lembrem: seu amor pesa mais do que qualquer cobrança e pode ser justamente o impulso que faltava para que esse momento se torne mais leve.