Venâncio Aires - O período de vestibulares, que ocorre anualmente, é marcado por grande expectativa e intensa preparação entre os estudantes. Entretanto, esse momento não afeta apenas os jovens: ele mobiliza também famílias inteiras, que veem nessas provas a possibilidade de garantir oportunidades futuras para seus filhos. Nesse contexto, surge uma questão central: qual é o papel adequado dos pais durante esse processo? A linha que separa o apoio da pressão é muitas vezes tênue, e ultrapassá-la pode gerar impactos significativos no bem-estar emocional dos estudantes.
É comum que os pais vivenciem, junto aos filhos, a ansiedade característica desse período. Muitos carregam o desejo legítimo de proporcionar estabilidade e segurança, e projetam no vestibular uma espécie de passaporte para o futuro. Contudo, quando essa preocupação se transforma em cobranças excessivas, comparações ou expectativas irreais, o efeito pode ser prejudicial. A ansiedade dos pais, ainda que silenciosa, tende a se transferir para os filhos, que já enfrentam uma carga natural de estresse devido às demandas das provas. Assim, o estudante passa a lidar não apenas com seus próprios medos, mas também com o receio de decepcionar aqueles que ama.
Outro aspecto relevante é a escolha profissional. Muitos jovens chegam ao fim da escolaridade sem plena clareza sobre qual carreira seguir, e esse é um processo natural. Entretanto, alguns pais tentam direcionar ou até determinar essa escolha, motivados por preocupações financeiras ou por experiências pessoais. Essa interferência pode impedir que o estudante explore seus verdadeiros interesses e talentos, comprometendo seu desenvolvimento futuro. Uma decisão tão importante deve respeitar o tempo e a individualidade de cada jovem, pois escolhas impostas tendem a gerar frustração e desmotivação a longo prazo.
O apoio parental, entretanto, é fundamental. A questão não é se os pais devem ajudar, mas como devem fazê-lo. O suporte mais eficaz não envolve controlar cronogramas, exigir desempenho perfeito ou transformar o vestibular em um divisor definitivo entre sucesso e fracasso. O que realmente beneficia o estudante é a presença acolhedora, a escuta atenta e o incentivo equilibrado. Pais não precisam desempenhar o papel de professores; precisam ser referência emocional, criando um ambiente em que erros sejam compreendidos e onde o valor do filho não esteja condicionado ao resultado de uma prova.
Além disso, é importante combater o mito de que o vestibular define o destino de alguém. Embora seja um momento significativo, ele não representa a única chance de construir uma carreira bem-sucedida. Há diferentes caminhos possíveis, diversas formas de ingresso no ensino superior e incontáveis oportunidades ao longo da vida profissional. Muitos adultos que hoje se destacam mudaram de curso, reprovaram em suas primeiras tentativas ou descobriram sua verdadeira vocação mais tarde. Transmitir essa visão aos jovens reduz a pressão e favorece sua saúde emocional.
A forma como as famílias atravessam o período de vestibulares também revela muito sobre suas dinâmicas internas. Em alguns lares, o processo aproxima pais e filhos; em outros, tende a gerar conflitos. Por isso, é essencial que os pais priorizem o relacionamento familiar acima de qualquer expectativa acadêmica. Ao final, o vestibular é passageiro, mas os vínculos afetivos permanecem. Cuidar desses vínculos é tão importante quanto preparar-se para a prova.
Em síntese, o papel dos pais durante os vestibulares deve ser pautado pelo equilíbrio. Apoiá-los sem sufocá-los, orientar sem impor, motivar sem pressionar são atitudes que não apenas favorecem o desempenho nas provas, mas contribuem também para o desenvolvimento emocional e pessoal dos jovens. Ao compreender que o vestibular é apenas um capítulo da vida e não sua definição , pais e filhos conseguem atravessar esse momento com mais serenidade, respeito e crescimento mútuo.