Venâncio Aires - Falar em valores morais e cultura pode soar abstrato, até difícil de definir. No entanto, esses conceitos, por mais intangíveis que sejam, moldam silenciosamente o comportamento das pessoas, orientam decisões e sustentam a estrutura de qualquer sociedade. Em muitas culturas tradicionais, como a japonesa, o conhecimento acumulado pelos mais velhos sempre foi visto como fonte de sabedoria. Ali, a experiência é patrimônio; e o respeito, um pilar fundamental da convivência.
Mas e aqui? Que destino estamos dando ao saber daqueles que já viveram mais? Que respeito estamos cultivando entre as gerações?
Vivemos hoje numa era marcada pela rapidez, pela fragmentação de atenção e por uma quase obsessão pelo “novo”. Nesse ambiente, muitos jovens parecem crescer sem objetivos claros, muitas vezes desmotivados ou distantes de qualquer propósito que dê sentido ao esforço do presente. Não raro, sequer compreendem por que precisam se alfabetizar ou estudar, mesmo quando lhes são oferecidas oportunidades amplas de aprender sobre seu entorno, seu estado, seu país e sua própria cultura.
E isso não ocorre por falta de capacidade, mas frequentemente por falta de orientação, de referências sólidas e de diálogos consistentes. Quando a educação perde conexão com a vida real e com o passado, ela deixa de despertar curiosidade e significado. Quando a família e a escola não conseguem caminhar juntas, o jovem perde o senso de pertencimento. E quando uma sociedade desvaloriza seus mais velhos, ela também se desconecta da própria história.
O que isso representa para o futuro da nossa coletividade?
Representa risco. Um risco silencioso, mas profundo: o de formar gerações desconectadas da própria identidade cultural, frágeis diante das incertezas e pouco preparadas para assumir responsabilidades sociais. Quanto menos entendemos quem somos e de onde viemos, mais dificuldade teremos para escolher conscientemente para onde queremos ir.
Por outro lado, também representa uma oportunidade. Ao reconhecer essa ruptura, podemos retomar o diálogo entre gerações, fortalecer o papel da educação como formadora de sentido e resgatar o valor do conhecimento acumulado. Uma sociedade que vive o presente, mas respeita seu passado, constrói um futuro mais sólido.
A reconstrução desses vínculos depende de ações simples e profundas: ouvir mais os mais velhos, valorizar a cultura local, ensinar não apenas conteúdos, mas também significados. É assim que se forma uma coletividade capaz de crescer com identidade, propósito e responsabilidade.