Muitas das experiências da apuração de uma reportagem não aparecem no trabalho final, apresentado aos leitores. Mas, a seu modo, elas contribuem – e muito – para o desenvolvimento da matéria. Os bastidores muitas vezes são tão importantes quanto a entrevista. Ajudam a conhecer mais sobre quem estamos entrevistando, os valores e as motivações daquelas pessoas.

Circula encartado nesta edição o caderno Folha Rural alusivo aos 150 anos de Linha Isabel. A comunidade celebra o sesquicentenário neste domingo. Nas últimas semanas, entrevistei uma série de pessoas, de diferentes idades e profissões, para falar sobre essa história. E os bastidores dessas entrevistas, que foram a base para elaboração do suplemento especial, falam muito sobre os valores dessas pessoas.

Exemplo disso é a gentileza da Rosmeri Menzel, que dedicou a folga do trabalho em uma tarde chuvosa para me guiar pela localidade onde cresceu e pela qual mantém um carinho especial – que inclusive, virará livro, no próximo ano. A mesma gentileza de quem repassou informações e prontamente esclareceu às dúvidas.

No bastidor da reportagem está o brilho nos olhos da professora Francine Lahr, ao se referir à Escola Santa Isabel, onde ela estudou e hoje leciona. Onde os alunos cultivam hortaliças vistosas, depois de terem se inspirado numa foto da antiga horta do educandário.

Na apuração da matéria também está a alegria do seu Hugo Haupt, que no auge dos seus 95 anos, desfiou as memórias para me contar as histórias do bisavô imigrante, do avô que construiu o primeiro salão de baile da localidade, do seu desempenho na Sociedade de Atiradores Concórdia que lhe rendeu 18 medalhas para a coleção. Não posso deixar de citar o filho dele, Minio Edson Haupt, e a esposa Elisete, que tão bem me receberam com chimarrão e garantiram a tradução de algumas respostas que, para o seu Hugo, saíam mais fácil no dialeto alemão.

Na reta final da apuração sobre o sesquicentenário de Linha Isabel, passei na casa da dona Clécia Bencke Jantsch, para saber mais sobre o hino composto por ela especialmente para a festa dos 150 anos. Antes disso, parei no mercado dos Klamt, em Centro Linha Brasil, em busca de informações sobre a casa da Clécia. Mais do que uma explicação, recebi um pedaço de bolo salgado, aquela acolhida gostosa da dona Selmira e uma ajuda da filha Josi, que de pronto intermediou com a nora de dona Clécia para que me guiasse até a casa dela.

Com um sorriso contagiante, a professora aposentada me falou com orgulho sobre a criação do hino. Ainda tive o prazer de ouvi-la cantar. Saí de lá com um saboroso pedaço de cuca para comer pelo caminho e certa do quanto tenho encontrado pessoas prestativas e acolhedoras pelo caminho – no jornalismo e na vida. Uma reportagem se faz com muitas mãos. Não é a toa que a Folha do Mate é o jornal da comunidade.

Juliana Bencke

Editora de Cadernos