O início da safra do tabaco, nos primeiros meses do ano, confere uma movimentação diferente na cidade. O movimento intenso em frente às empresas e no transporte coletivo, em horários de entrada e saída dos turnos nas indústrias, são marcas do período da safra.
A rotina envolve milhares de trabalhadores e faz girar a produção do setor mais representativo na economia de Venâncio Aires, responsável por 52% do Valor Adicionado Fiscal (VAF) do município, considerando indústria e setor primário. Se for considerada só a representação da indústria tabacaleira, são 45,99%.
Mas os reflexos vão além. A safra também envolve muitas outras empresas e profissionais de forma indireta. Nessa grande engrenagem, estão serviços de manutenção industrial, refeições, transporte e vestuário, para citar os mais conhecidos.
A safra também movimenta todo o entorno das empresas: da vendedora ambulante que comercializa rapaduras em frente às empresas aos bares e restaurantes próximos às indústrias, que acabam sendo pontos de encontro para almoços especiais entre colegas de trabalho. Grandes e pequenos impactos difíceis de mensurar economicamente, mas que fazem parte da vida de muitos venâncio-airenses.
Histórias e amizades
Conheço muitas pessoas que trabalham ou já atuaram como safreiras nas indústrias de tabaco. Sempre fica muito evidente o quanto o convívio nas empresas, com pessoas de idades, localidades e histórias diferentes é agregador. Minha mãe, Maria Cristina Agnes Bencke, trabalhou por mais de 10 safras na CTA e sempre chegava em casa empolgada com as amizades, as oportunidades de conhecer histórias de vida e com a participação no Coral Ser Mais Feliz da CTA.
Nesta semana, para a produção do caderno Mapa Rural – especial Safra do Tabaco, que circula encartado nesta edição, estive na Alliance One para conversar com a Marcilene Rabuske Walter e o filho dela, Guilherme Luiz Walter. Os dois são colegas de empresa. Ela, com mais de 20 anos de experiência na safra do tabaco – mais da metade do tempo na Alliance. Ele, há seis safras, depois de participar do curso de Auxiliar de Processamento de Tabaco, oferecido pela empresa em parceria com o Senai, em um programa voltado a pessoas com deficiência.
Na conversa com eles, a paixão pelo trabalho na safra ficou muito evidente. E não tive como não lembrar dos relatos da minha mãe enquanto também trabalhava como safreira. Assim como a mãe, dona Marcilene considera que as amizades “são a melhor parte”. Trabalhar em empresas tão grandes possibilita o contato com muitas pessoas e o surgimento de relações muito bonitas, que não se restringem à rotina e às paredes do local de trabalho.
Há um ano, o colapso da Covid
Depois do pico de casos de Covid-19, em janeiro, que reacendeu o alerta sobre a pandemia, nas últimas semanas, temos acompanhado uma redução no número de novos casos. Esta foi a quarta semana seguinte com queda no número de casos, com 351 – uma esperança de que o cenário se estabilize.
Na mesma época, no ano passado, vivíamos o período mais conturbado da pandemia, com o colapso do sistema de saúde de Venâncio Aires. No dia 22 de fevereiro de 2021, o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) fechou o Pronto Atendimento e transformou o local em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), para dar conta da demanda. Acompanhada pelo colega Alvaro Pegoraro, tive acesso com exclusividade ao local. Sem dúvida, ver o plantão do hospital transformado em UTI, com pessoas intubadas, estruturas improvisadas e semblantes muito preocupados dos profissionais de saúde, foi uma das cenas que mais me impactaram na experiência como jornalista. Desejo, que cada vez mais, isso seja apenas passado e possamos ver a luz do fim da pandemia logo ali na frente. Seguimos nos cuidando!
