A vida da gente muda. Com uma criança em casa, mudam as prioridades, a rotina, as certezas. Mudam as coisas de lugar e se torna natural encontrar brinquedos no meio das panelas, toalhinhas de boca dentro dos bolsos do casaco. As bolsas são dominadas pelos itens infantis – fralda, lenço umedecido, comidinhas, roupas, boneca preferida – e volta e meia a gente vai para o trabalho sem perceber que sequer tirou as coisas do bebê.
Ter uma criança em casa multiplica os sorrisos de um dia. Mesmo naqueles mais cansativos, nas manhãs depois de noites compridas e mal-dormidas, é impossível olhar para um serzinho tão fofo sem sorrir. Mesmo nos dias mais cansativos, aqueles olhinhos pequenos brilhantes são uma carga de energia.
Lembro bem de um dia, em uma semana intensa, em que me sentia improdutiva e as coisas do trabalho não corriam como eu desejava. No início da noite, minha bebê, na época com oito meses, demonstrou uma alegria imensa quando balancei um papel celofane colorido na frente dela. Aquele momento me emocionou muito. Ao ver a alegria dela, me senti a pessoa mais especial do mundo. Algo tão simples, mas que significou tanto. Ter uma criança em casa nos ensina muito! Sobre o nosso valor, sobre tocar os outros com pequenas coisas, sobre o valor de simplesmente sentar no chão e estar presente.
E por falar em sentar no chão, se tem uma coisa que muda com uma criança em casa é a perspectiva dela. Vista de um ângulo diferente, a casa se torna um ambiente inóspito. “Como pude morar aqui tanto tempo sem perceber esses perigos?”, era uma das coisas que me questionava seguidamente, temendo os acidentes com quinas, tomadas e degraus. Isso sem falar no fácil acesso à ração de gato e às pedras que parecem ter um sabor especial aos bebês.
Excluídos esses momentos de tensão, ter uma criança em casa é um convite para a gente ser criança de novo. Cantar, dançar, rolar no chão, fazer de conta. Rir sem motivo. Nos convida também a refletir sobre o que queremos de diferente na nossa vida, como mais tempo em família, mesa reunida no café da manhã, beijo de boa noite. Nos obriga a reduzir o passo, caminhar mais devagar, colher florzinhas pelo caminho. A querer brincar na rua. E o fato é que a gente nem sempre tem tempo, nem sempre tem espaço, nem sempre tem um lugar seguro e de natureza com o que tivemos na nossa infância.
Mas talvez o mais importante seja justamente esse recado que as crianças nos dão e as paradas obrigatórias que elas nos exigem – as pistas sobre o mundo que elas precisam e os adultos que elas precisam. Não é fácil, mas se observamos com atenção, vamos saber o que eles realmente necessitam. E na maioria das vezes isso custa pouco em dinheiro e não tem a ver com presentes caros. É o passeio de bicicleta, a brincadeira na pracinha, o colo antes de dormir. É contar uma história, montar um quebra-cabeça, juntas as pedrinhas da rua.
Especialmente no mundo que vivemos e com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a maternidade é exaustiva. Embora esse cansaço turbe a nossa visão, esgote nossas forças e a gente tenha até vontade de fugir, às vezes, nada disso tira a beleza que a convivência com as crianças traz para as nossas vidas. Vale tanto para os pais quando para avós, tios, padrinhos e outros amigos. Conviver com uma criança muda nossa vida e a de todos que estão a nosso redor.
Faz a gente notar os cachorrinhos passeando pela rua para dizer “olha o vavau!”, provar comidas que não gostamos para incentivar a boa alimentação, conversar com estranhos na rua que puxam conversa sobre a criança, respirar fundo mil vezes, ser contorcionista para colocar roupa, pular da cama ainda dormindo, ao primeiro chorinho, escovar os dentes das bonecas, decorar todas as orações e desenvolver milhares de argumentos para convencer alguém de menos de um metro de altura!
Este texto é para a Laura, a minha pequena de 2 anos, que me ensina todos os dias, por quem eu desejo ser uma pessoa melhor e para quem eu espio pela foto no porta-retrato, durante o trabalho, assim como fazem tantas mães por aí. É para todas as crianças que fazem a nossa vida ser melhor e quereremos um mundo melhor. Para a Lívia, o Rafael, a Lauren, o Luís, a Larissa, o Leonardo, o Lorenzo, a Isabela, o Pedro…para citar alguns dos filhos dos colegas da Folha do Mate e Terra FM.
Que neste Dia das Crianças, a gente possa fazer jus a tudo o que eles representam na nossa vida e construir um mundo melhor para eles. Nesta edição do jornal não vai faltar inspiração! Como faz há 51 anos, a Folha do Mate publica o caderno Sorriso de Criança, com fotos dos pitocos que esbanjam fofura. Um feliz dia ao lado de quem te motiva a ser melhor!