As reformas do Calçadão

As reformas no Calçadão seguem sendo tema de discussão nas rodas de conversa, dentro da Prefeitura, nos grupos de empresários e também de arquitetos e urbanistas. Na edição de hoje, a Folha do Mate publica um artigo de opinião enviado pelo engenheiro Lúcio Konzen.

Ele foi secretário municipal de Planejamento no Governo Airton Artus, quando Giovane Wickert, atual prefeito, foi vice-prefeito. Lúcio foi secretário de Planejamento bem no ‘auge’, pode-se dizer, da discussão sobre as tipuanas no Centro de Venâncio Aires, em 2013.
Na época, o assunto foi tema de muitas reuniões da Câmara de Vereadores, inclusive de audiências públicas.

‘Vasculhando’ arquivos da Folha, período em que eu cobria as sessões da Câmara, localizei uma matéria de abril de 2013, quando Konzen defendia a permanência das tipuanas. “Sou pela defesa da vida. Não podemos dizer que isso é um câncer ou que são agressivas”, declarou em entrevista, na época.

Seis anos depois, o artigo que ele compartilha com os leitores vai na mesma direção. Para ele, é um “retrocesso” a opção de dar mais espaços aos carros e bares.

O artigo pode ser conferido, na íntegra, abaixo:

Calçadão

Há mais de 30 anos, por inspiração e coragem do Governo de Almedo Dettenborn, ousou-se transferir aos venâncio-airenses um espaço público de lazer antes restrito a carros. Pelo ato foram ampliadas as áreas de calçadas e praça. Estava sendo criado o nosso Calçadão. Uma conquista da população, um patrimônio natural e cultural. Na época, as obras iniciaram entre a Travessa São Sebastião e Rua General Osório e mais tarde até a Rua Jacob Becker. Pela recepção da obra, o prefeito falava em levar a mais quadras a novidade.

Ao longo do tempo essa conquista foi deteriorando-se e acabou no abandono. Sem a devida atenção, o espaço público foi sendo privatizado e perdendo a sua exuberância. A ocupação aconteceu naturalmente. Sem regras, os bares limitaram as suas áreas de ocupação no espaço público, com coberturas, e inundando vizinhanças. Caminhar nas calçadas é passar por “dentro” dos bares. Há anos ouço de famílias que em certos momentos deixaram de circular por este trecho.

Nos últimos anos, o Executivo e setores econômicos, encontraram um vilão para esta situação: as Tipuanas. Logo elas que ao longo dos anos, também abandonadas, cresceram e nos deram vida, verde e um cartão postal ao local, apesar dos danos que causaram, frutos, também, do desamparo de todos nós. Agora com a proposta apresentada as Tipuanas e o espaço, uma conquista da cidade e da população, terão que ceder para estacionamentos e circulação de carros. Bela troca! Enganam-se aqueles que a mudança para novos “donos” vai trazer progresso. Eu e muitos sentimos vergonha e retrocesso com essa opção. O caminho seria revitalizar, cuidar do que plantamos e avançar nas conquistas por mais espaços ao cidadão e menos aos carros (ver o que diz o Plano Nacional de Mobilidade Urbana). Infelizmente na voz do prefeito Giovane que diz “… essa obra não tem nada de errado”, é que parece definir-se o futuro da área, apoiados por segmentos da cidade acima da nossa força. Mas sempre há esperança, como em 2013, quando o Promotor Rui Fontoura Porto, impediu o corte das árvores. Em seu despacho, em um dos trechos, referindo-se aos danos causados pelas raízes dizia: “…mas estas irregularidades existem onde nem sequer há raízes e, ademais, há meios técnicos para sua correção”.
As diferentes visões sobre o assunto e, principalmente, quando surge um “nada de errado” nos levam a pensar, será que estamos tão errados?

“Se essa rua/Se essa rua fosse minha
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas/Com pedrinhas de brilhante
Só pra ver/Só pra ver meu bem passar…”
(cantiga de roda/manifestação popular)

LÚCIO KONZEN
Engenheiro Civil



Letícia Wacholz

Letícia Wacholz

Atua há 15 anos na Folha do Mate e desde 2015 é editora da Folha do Mate. Coordena a produção jornalística multiplataforma do grupo de comunicação. Assina a coluna Mateando, a página 2 do jornal impresso.

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