Você já foi entrevistado ou conhece alguém que respondeu questões para uma pesquisa eleitoral? Boa parte dos cidadãos costuma ter curiosidade a esse respeito, mas as qualificações para ser selecionado pelos institutos que realizam os levantamentos não são muito conhecidas do público, assim como quais detalhes, exigências e recortes populacionais tornam o resultado da pesquisa factível.

Para ser representativa, ela precisa ser aleatória, estar associada a um determinado nível de confiança e a uma margem de erro 

 Marcos Ruben Oliveira – estatístico do DataSenado

Isso significa dizer que para responder a um questionário de intenção de votos um eleitor precisa ser sorteado na loteria dos institutos de pesquisa. Eles escolhem os entrevistados depois de definida a quantidade de pessoas a serem ouvidas, a partir de um cálculo que considerará a margem de erro (a variação possível em torno do resultado) e o nível de confiança (a quantidade de vezes que a pesquisa dará resultado semelhante se for repetida). Esse cálculo, como exige a lei, deve ser feito por um estatístico, para garantir que o processo de seleção seja bem feito e com a técnica adequada, frisa Marcos.

Foto: Edilson Rodrigues / Agência SenadoMarcos Ruben
Marcos Ruben explica as pesquisas 

AMOSTRA

De acordo com Marcos Oliveira, o primeiro passo para a realização do levantamento é a definição do público-alvo. No caso da pesquisa eleitoral para governador, por exemplo, os eleitores de um estado; para a Presidência da República, todos os 142,8 milhões de eleitores brasileiros. Ele ressalta um dado interessante: os votantes do exterior também deveriam ser ouvidos para retratar mais fielmente as intenções de sufrágio. Afinal, são mais de 350 mil que participam da escolha do presidente estando fisicamente em outro país.

– Mas deixá-los de fora não invalida uma pesquisa – salienta.

Definido o público-alvo e calculada a quantidade de pessoas a ser entrevistadas a partir do cálculo estatístico, é preciso definir a amostragem, que deve ser feita sem intervenção humana, como se fosse um sorteio. A forma desse “sorteio” varia muito, afirma Marcos.

Na amostragem aleatória simples, no caso da pesquisa eleitoral para presidente, poderiam ser escolhidos brasileiros em geral ao acaso. Mas provavelmente ficariam de fora eleitores de estados menos populosos como o Acre e apareceriam muitos eleitores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, maiores colégios eleitorais, o que impediria a obtenção de um perfil de votação nos estados. A aleatória simples é a mais fácil, mas não é recomendável para um país com a diversidade cultural, econômica e dimensões do Brasil.

Os grandes institutos de pesquisa, como o Ibope e o Datafolha, utilizam a amostragem aleatória estratificada, que também é utilizada pelo DataSenado. Ela divide a população-alvo pelos 27 estados da federação. Alguns aplicam ainda uma variante desse tipo de amostragem, com divisões por renda, idade, escolaridade ou gênero: a amostragem estratificada por cotas. Isso significa dizer que, se numa cidade a população feminina é de 60% e a masculina é de 40%, tenta-se reproduzir esse universo ouvindo a mesma proporção de mulheres e homens na pesquisa. O estatístico calcula quantas pessoas serão ouvidas com base nos dados demográficos do IBGE.

Entretanto, na opinião de Marcos, definir cotas afeta em parte a aleatoriedade, um dos requisitos para uma pesquisa representativa. Por isso, esse recurso não é uma unanimidade entre os institutos, nem é usado no DataSenado.

– Interfere na probabilidade de seleção, você perde um pouco de aleatoriedade, mas dado o universo de entrevistados, esse resultado acaba não aparecendo muito. Mas teoricamente é menos precisa – observa.

QUEM RESPONDE?

O perfil dos eleitores que responderão às questões é escolhido a partir de um banco de dados. Uma das principais fontes utilizadas para essa coleta é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divide a população nos chamados setores censitários, considerando ainda as informações da Justiça Eleitoral, revela o estatístico. Os setores censitários são unidades territoriais definidas pelo IBGE para orientar a distribuição espacial da população, sendo mais de 200 mil em todo o Brasil. Para exemplificar, os blocos ABCD e E da SQS 203, na Asa Sul, em Brasília, formam um setor censitário, e os blocos FGHI e J, outro, explica Marcos. No IBGE, também há informações sobre faixa etária, cor e renda, entre outros dados.

Sorteados os setores para a pesquisa, os domicílios a serem visitados localizam-se nessa área. O setor censitário é um critério geográfico para facilitar a escolha do eleitor, que deve ser ouvido pessoalmente, em campo, já que pesquisar pelo telefone também afeta a aleatoriedade, observa Marcos. Afinal, apenas pouco mais de 50% da população têm telefone fixo, e uma grande parcela não teria chance de ser entrevistada por esse critério, o que afrontaria a isenção da pesquisa.

Fonte: Agência Senado