O tabaco, que já vive em constante debate devido às restrições à produção e comercialização, registra um novo impasse, desta vez, entre os dois principais interessados em manter uma das maiores cadeias do agronegócio da economia brasileira. Nesta sexta-feira, as ruas do maior produtor de tabaco do Brasil – Venâncio Aires – foram tomadas pelos produtores, que saíram dos galpões para pressionar a indústria por mais valorização na hora da compra. Esta é uma das safras em que o fumicultor está sendo mais desvalorizado, conforme as entidades representativas, pois as empresas estariam sendo rigorosas demais na hora da classificação, além de pagar muito menos em relação às safras anteriores.
A dificuldade de negociação – afinal, apenas três empresas assinaram o protocolo de reajuste – obrigou o fumicultor a pressionar, a ir à frente das empresas. E essa não foi a primeira vez na história que eles foram até os portões da indústria para gritar por valorização. A ‘chapa’ esquentou e o recado foi dado com a queima de folhas de tabaco em frente as fumageiras. Um ato simbólico, mas que sinaliza a indignação do produtor que também precisa ‘tocar’ o negócio dele e mais uma vez teve como única saída manifestar. O produtor encerrou o dia de protestos desanimado, mas deu prazo de 20 dias para as indústrias melhorarem o preço, sob ameaça de voltarem para a frente das empresas, e daí não pretendem respeitar a liminar de ficar 50 metros longe dos portões. O trabalhador, além de receber menos, está decepcionado com a classificação por parte das empresas, que agora escolhe pagar o reajuste, apenas, para o tabaco do meio pé, as folhas mais nobres. O resto vira resto. Com a queda na demanda mundial, a ordem está sendo prezar pela folha de maior qualidade, enquanto isso, o estoque de tabaco se acumula. Neste impasse não se pode deixar de analisar o cenário econômico que é desfavorável, e levou as indústrias a encontrar no mercado externo uma forma mais barata para o negócio. No leste africano, por exemplo, as empresas compram tabaco a preço de banana, economizando 50% nos custos. Um mercado que se vende para retomar uma produção perdida quando o Brasil invadiu o campo deles. Este é mais um exemplo de ordem do mundo capitalista e que acena, mais uma vez, para a bandeira da diversificação, que parece tão distante quando não se encontra outra cultura tão rentável para investir no campo. Entretanto, a indústria acabou deixando de lado, quem por anos foi seu parceiro direto e abriu as portas de suas propriedades.
é o tabaco a principal fonte de renda para centenas de milhares de famílias do campo há mais de 160 anos e que gera inúmeras de oportunidades de emprego nas indústrias. O resultado do descontentamento foi a mobilização que reuniu mais de 2,5 mil produtores de diversas cidades produtoras da região. Até o Governo do Estado, através da Emater, participou mostrando apoio à reivindicação do produtor. Ao contrário do Governo Federal, que escolhe o silêncio muitas vezes. O setor aguarda apoio como a certificação do Ministério da Agricultura para ganhar mais competitividade nas exportações. é a chancela que assegura mais qualidade à produção. Frente ao avanço da produção africana, esse pode ser um diferencial em um futuro decisivo para o setor.Ao longo de décadas, trabalhadores e indústrias construíram um sistema integrado reconhecido. Agora, o setor que passa por um novo ciclo de dificuldades, precisa de união – a mesma quando se defendem de governos e órgãos de saúde. Não há produção se não tiver quem planta. E não se planta se não tiver quem compra. é preciso fazer jus à herança dos europeus, que se tornou uma cadeia organizada e garantiu o desenvolvimento de centenas de municípios do Sul do país. Pelo bem da indústria, dos produtores. Da economia. Dos municípios produtores. Hoje, o tabaco, ainda, sustenta muito mais do que os fumicultores envolvidos. O faturamento é a base econômica de cidades inteiras. Venâncio é uma delas.