A vida em sociedade foi costume trazido para Venâncio Aires pelos imigrantes, especialmente de origem alemã, que longe de sua terra-mãe sentiram a necessidade de conviver em comunidade na nova terra, para orar, conversar, cantar, ler, se divertir. Foi assim que surgiram sociedades de leitura, canto, de cavalarianos, os clubes de atiradores, de damas e de lanceiros. Como a maioria se voltou ao campo para plantar e sustentar a família, foi no interior que as sociedades se proliferam mais. Surgiram igrejas e salões em todas as localidades e, até hoje, Venâncio se destaca na região e no estado pelo número de sociedades e clubes, na cidade e no interior.
O convívio em sociedade, tão comum no século XX, com a globalização, especialmente, com o advento da internet, mudou o comportamento das pessoas e, consequentemente, diminuiu a participação em eventos e atividades dos clubes que já viveram seus anos de ‘ouro’ e até de glamour. O ponto de encontro que antes era o clube, agora é a sala virtual, o sofá de casa, o Whatsapp. Nas sociedades da cidade, onde as piscinas eram o grande atrativo, no passar dos anos este luxo passou a ser lazer caseiro. Eventos tradicionais como Baile de Debutantes, Broto, Carnavais , Mulata Café, Comenda da Bomba, bailes de aniversário dos clubes, perderam força e adesão de participantes.
As pessoas foram deixando de frequentar e colaborar com as sociedades e os dirigentes viram minguar, cada vez mais, o número de sócios e a contribuição, vital para a manutenção dos espaços e fundamental para a proposição de novos projetos.
Esta nova realidade trouxe a reboque um outro fator que é preocupante. Cada vez menos líderes se dispondo a assumir a gestão destas sociedades. é preciso articulação de quem está à frente delas para encontrar um sucessor, que mais vê dificuldades do que oportunidades, na maioria das vezes. No interior, com raras exceções, são as pessoas mais idosas que ainda conduzem as sociedades e na medida em que vão falecendo, começam a fechar sociedades. As comunidades tentam dar continuidade a festejos tradicionais, como bailes de kerb e as tradicionais alvoradas festivas, que ainda são atrações dos fins de semana. Na cidade, as novas opções de encontros e lazer esvaziaram as sociedades, e desafiam este segmento a buscar alternativas. A maioria tem como lucro, a contribuição dos sócios e o aluguel dos salões. Não há mais tantas promoções.Uma alternativa que já foi discutida no passado é a fusão de sociedades e, há poucos dias, o assunto foi destaque em Santa Cruz do Sul, onde os dois clubes mais tradicionais, o Corinthias e o União, assinaram uma carta de intenções para criar um novo clube e não verem morrer, a tradição de dezenas de anos. Dois por uma, três por uma. O formato ainda deve ser avaliado, mas parece o caminho mais viável, pois juntas poderão desenvolver projetos e resgatar associados. Somar esforços e traçar um plano estratégico para ver seus espaços aproveitados por essa e futuras gerações. é uma ação que vale o futuro das sociedades e porque não dizer, da vida comunitária, cada dia mais ausente. As pessoas estão cada vez mais recolhidas e menos saudáveis. O assunto deve ser amadurecido de olho na sustentabilidade financeira. Este parece ser o principal desafio. Quem participa deve contribuir, afinal, sem dinheiro não se consegue deixar portas abertas. é preciso de pessoas que tomem frente e de pessoas que queiram desfrutar das sociedades. Um ciclo que não envolve somente um caixa, mas uma tradição.