FOLHA RECOMENDA leitura da coluna do cientista político Francisco Ferraz.
Essa é uma dasmuitas ilusões que formama atmosfera da política. Como toda ilusão, gera falsas expectativas, conduz a conclusões precipitadas e induz ao erro sob variadas formas.
Geralmente, o inimigo de seu inimigo, que busca aproximar-se de você, é um individuo passional, dominado pelo ódio, cujo objetivo único ao apóia-lo é infligir um dano ao seu objeto de ódio, pouco ou nada lhe importando a sua candidatura.
Em geral é ex amigodo seu adversárioque, pormotivos deordempessoal, desiludiu-se como antigo amigo, sentiu-se traído por ele, ou julgou-se prejudicado por alguma ação ou atitude, a tal ponto que a amizade de outrora se transformou num ódio pessoal, radical e irreversível.
Quando ele aparece no QG da campanha e é recebido por um de seus assessores, ele e’ encaradocomoummistode doido e “enviado dos céus”. Parece doido, às vezes pela aparência, outras pela forma como fala, ou pelas informações que deixa escapar ou pela ousadia das afirmações contra o adversário.
Parece o “enviado dos céus” pela pasta que traz embaixo do braço. Ah! Aquela pasta… Ali, segundo ele, encontram-se fatos, fotos e documentos que vão liquidar definitivamente com as chances do seu adversário.
Mas, a pasta ele não abre para ninguém, a não ser para você, o candidato, por isso, ele quer se encontrar com você, e a sós.
Ele fica esperando, sorvendo o cafezinho que lhe e’ servido junto com um dos assessores que tenta arrancar mais alguma peça de informação.
A sua primeira reação é de não recebe-lo, não perder tempo com ele. Mas a pasta…. A pasta faz pensar. E se afinal dentro dele estiver, realmente, os documentos destruidores que ele alega possuir, aqueles que ninguém tem e que ninguém descobriu?
Aberta a pasta, a campanha entra então na sua operação demineração. Dentro dela pode-se encontrar tudo. Em geral o resultado e’ pífio: são matérias de jornais, desgravações, bilhetes, fotos, copias de documentos oficiais, anotações e o que mais se imaginar.
Não é impossível que dentro da pasta se encontre material explosivo contra o adversário, mas é raro… Usualmente, os alegados documentos não comprovam nada, as acusações já são conhecidas e já foram respondidas e o material dito “sigiloso”, quanto mais grave for, menos comprovação terá a apoia-lo.
às vezes acontece, embora seja raro, que alguma coisa do que ele traz na pasta, possa ser de utilidade para a campanha. Não se iluda, vai lhe custar muito caro. Normalmente ele não se satisfará em entregar o material para você usar. Ele vai querer determinar como deve ser usado e quando, interferindo com sua estratégia.
Cuidado, pois, com o homem da pasta. Ele é um passional, dominado pela ideia de destruição do seu inimigo pessoal que, circunstancialmente é seu adversário naquela eleição. Mesmo quando pode ser útil, dá muito trabalho lidar com ele. Além disso, você não deve perder de vista que é uma pessoa extremamente passional. Se se decepcionar com você, não terá nenhum problema de inclui-lo no rol dos seus desafetos pessoais.
Outra situação, completamente diferente, é a de pessoas que estavam ligadas ao seu adversário por vínculos políticos, que dele se afastam por sentirem-se politicamente traídos. Estes aproximam-se de você por razões políticas, pelas posições políticas que você defende.
Nestes casos, embora a motivação inicial de aproximar-se de você tenha sido derrotar aquele que se tornou inimigo deles, há uma racionalidade clara e explicita a impulsionar a aproximação. Há uma razão forte, de natureza política, para eles lutarem pela vitória da sua candidatura.
Estas pessoas, que podem somar um número expressivo de eleitores, constituemuma ajuda importante para sua campanha. Eles por certo, vão exigir uma reunião de acerto político com você, onde uma espécie de pacto vai ser acordado. Nos termos daquele pacto você poderá contar com eles.
Nos dois casos, entretanto, é sempre avisado não esquecer que os inimigos de seus inimigos não são seus amigos.