No Folha Recomenda deste sábado, o texto do médico e colunista Moacir Emílio Ferreira. Vale a pena ler!
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Eu acho que Deus desligou a televisão.E faz tempo. Não só a televisão. Também arrancou o rádio da tomada, cancelou o celular e o fixo, desconectou-se do Facebook, Instagram, WhatsApp. Deletou o Google. Jogou o GPS em alguma nuvem distante. Parou de assinar jornais e revistas. Não quer conversa com nenhum santo – e são muitos! – que insistem em Lhe encaminhar preces, anseios, pedidos e súplicas dos fiéis.Chega! Deus não quer mais saber da Terra. Cansou. A maldade humana está fora de controle. Por muito menos do que as barbáries de hoje, Ele já havia promovido aquela confusão de línguas na Torre de Babel, produziu as Sete Pragas do Egito, destruiu Sodoma e Gomorra. Como tudo isso só resolveu por algum tempo, mandou o Dilúvio. O Criador não gosta de falar nesse assunto, mas admite que o resultado seria melhor se Noé tivesse colocado na arca apenas os animais.Eu não quero tirar a fé de ninguém. Apenas “acho” que é isso que está acontecendo no Céu. é que minha fé desmorona sempre que matam uma criança. E estão matando crianças todos os dias. Balas perdidas matam crianças. Padrastos e madrastas matam crianças. Pais e mães matam filhos. Assaltantes armados invadem festa infantil e matam criança. Negligência e abandono matam crianças.Quando a crueldade humana chega a esse ponto, só uma intervenção divina pode recolocar a humanidade nos trilhos.Bons tempos em que as pessoas tinham medo do Inferno. Hoje, o Demônio está desmoralizado. Ninguém acredita mais nele. Aliás, ninguém duvide que o próprio Satanás esteja embasbacado com certas ações humanas.Ele próprio, o Diabo, o Rei das Trevas, o Maligno, o Mefistófeles, deveria pleitear uma vaga de estagiário aqui na Terra para aprender novas maldades. Seria uma espécie de pós-graduação.De quem é a culpa da degradação da espécie humana que rouba, estupra, detona bombas, envenena, esquarteja , queima seus semelhantes sem esboçar o mínimo esgar de remorso?
A culpa é coletiva. A sociedade se tornou condescendente demais com a desonestidade, a falta de respeito, a inexistência de princípios, a ausência de autoridade, o maus exemplo dos líderes, a frouxidão das leis, a inoperância da segurança.
A sociedade dá tapinhas nas costas dos canalhas e fecha os olhos para os meliantes. E ainda coloca vários em postos de mando!Deus? Deus tem as costas largas para suportar o peso de tudo aquilo que, inerte e inconsequente, a humanidade teima em atribuir à Sua vontade.Não nos enganemos: a maldade é própria do ser humano. Ela não deixará de existir nem por extirpação genética, nem por temor a Deus ou ao Diabo. A maldade humana deve ser combatida e sufocada aqui mesmo onde ela é praticada e não na abstração da vida eterna.Nas partes do mundo onde ainda é possível ter-se uma vida civilizada e sem riscos, onde os crimes de morte são escassos e não existe roubalheira desenfreada, há leis cumpridas, há polícia forte, há justiça firme e cadeias seguras. Este é o verdadeiro temor que a sociedade deve ter.é esse rigor que constrange e sufoca os piores instintos humanos.O que se precisa, então? Primeiro: indignação, intolerância com o mal. Segundo: enxotar para o pântano da sua própria incompetência todas as pseudo-autoridades que andam por aí mais preocupadas com os próprios fundilhos do que com o futuro da sociedade.Vai demorar? Vai demorar!Mas a Vida precisa de esperança.Depois de nós, vêm os nossos filhos e netos.Ainda dá tempo para preparar-lhes o caminho.
