A criminalidade brasileira sempre teve a pobreza como culpada. Furtos, roubos, assaltos e até assassinatos sempre tiveram suas causas ligadas às má condições de vida de uma vasta parcela de brasileiros. Melhore-se a renda do povo, diminuam-se suas carências, e teremos uma queda vertiginosa dos crimes. é o que se dizia.
Pois o aumento da renda da população tornou-se uma realidade nos últimos vinte anos. Com a estabilidade do real, as pessoas puderam planejar melhor a sua vida e conquistar sonhos antes impossíveis. E a criminalidade? Bem, os criminosos, devidamente inseridos nessa ascensão da sociedade, também prosperaram. E como se dá a prosperidade da bandidagem? Através da modernização das suas ações: armas mais potentes e sofisticadas, uso amplo de explosivos restritos, planejamento mais elaborado através de um sistema de inteligência que aproveita a tecnologia de celulares, smartfhones e computadores, uma grande rede de colaboradores e clientes discretos infiltrados em diversos meios. Enfim, tudo o que é possível se obter com mais dinheiro.
Resumo: a diminuição da pobreza definitivamente não diminuiu a criminalidade. Pelo contrário: aperfeiçoou-a. Aqui, um alerta. Que ninguém cometa a loucura de querer de volta a pobreza para diminuir os crimes. Não. O que se deve querer é que a prosperidade e a eficiência também cheguem ao aparato policial e judicial do país, coisas que definitivamente ficaram para trás.
Mas não só isso. é preciso também que cesse no Brasil o sentimento de inveja. Como assim? Ora, os exemplos de ladroagem estão em todos os níveis. Liga-se a televisão e, das dez primeiras notícias, seis mostram golpes praticados por políticos e autoridades dos três poderes, funcionários públicos, empresários, profissionais liberais e etcétera. Ou seja, bandidos que não têm a tradicional cara de bandido. Esses golpes de alto quilate causam uma justificada inveja no marginal de pequeno e médio porte. Ele se sente impulsionado a agir mais, a correr mais riscos, a desafiar a impunidade que se tornou geral. Ao ver as raposas comandando o galinheiro, o bandido comum se motiva a querer mais da sua “carreira”, ele sai assaltando e matando a torto e a direito na tentativa de subir na vida tal qual seus colegas engravatados. Deviam parar de inspirar maus exemplos, esses supostos cidadãos “de bem”.
Nesse clima de “liberou geral”, parcelas cada vez maiores da juventude brasileira tendem a se aventurar pelo crime. Jovens abaixo dos 18 anos tornam-se ainda mais violentos porque sabem que são “de menor”, protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. E, apesar de sua crueldade, são defendidos por políticos ideologizados que continuam a chamá-los exatamente de…“crianças e adolescentes”! Um rapaz de 16 ou 17 anos que anda armado, planeja um crime, escolhe a sua vítima, rouba, estupra e mata, pode fazer parte do grupo das “crianças e adolescentes”? Ele merece o privilégio de só ficar um ou dois anos apreendido numa instituição ineficiente para depois ser solto e continuar a sua carreira criminosa? Qual a diferença entre esse criminoso e um outro com mais de 18 anos? Ah, precisamos melhorar a educação, combater as drogas, ressocializar os jovens … Mas quando? Quando?
Enquanto isso, quantas gerações de impunidade juvenil ainda veremos? Se isso continuar, nada mais nos restará senão modificar as nossas orações: “ Senhor, protegei as nossas crianças. E também protegei-nos das crianças.”