Foto: Elias Mello / DivulgaçãoSilvio e Wirk, obrigada pela confiança e por abrirem esta história para nossos leitores
Silvio e Wirk, obrigada pela confiança e por abrirem esta história para nossos leitores

Já disse aqui, no Mateando, o quanto o jornalismo transforma e como é desafiador colocar em palavras, histórias de vida. Das pessoas, da nossa gente. Na tarde desta sexta-feira eu tive esse desafio, ao entrevistar Wirk e Silvio, o primeiro casal homoafetivo a se casar no civil em Venâncio Aires. No calor da emoção, do dia do casamento e ainda, o convívio com o tratamento de câncer me esperavam no quarto andar do edifício onde fica o Wirk Studio Hair. 

A reportagem? Exclusiva, inédita, única. Histórica. Os entrevistados? Sérios, convictos, de opinião forte, determinados, também cautelosos para não expor e não tornar nenhum depoimento sensacionalista. Afinal, o tema homoafetividade deve ser tratado com normalidade, sem diferenças. Foi assim, naturalmente, que eles se viram gays, na adolescência.

Gays nascem gays, héteros nascem héteros”, define Wirk.

Ao mesmo tempo, como medir o valor jornalístico da diferença indiferente, quando a sociedade venâncio-airense registra em sua história o primeiro casamento entre duas pessoas do mesmo sexo? A comunicação, o jornalismo, não veste cores e partidos, mas reconhece que eles precisam de espaço, de igualdade e, por isso, da escolha de estampar, na capa, uma história regada de respeito, cumplicidade, amor. Eles conquistaram espaço de forma digna, humilde e hoje são referência. Fazem parte da história da Capital do Chimarrão.

Para mim, a repórter, os sentidos ‘sentiram’ (é reduntante, eu sei) seus extremos. Olhar e faro apurado, sensibilidade, clareza, fidelidade, ética e, principalmente, respeito aos entrevistados para não ultrapassar limites e fazer um jornalismo construtivo para a comunidade, para os leitores.

O resultado? Está na manchete da Folha do Mate deste fim de semana. Lá, não há registro, apenas, do casamento. Lá, nas páginas do jornal, eu conto uma história, promovo uma reflexão. Eles, ensinam.

 

As páginas também abrem espaço para um depoimento do Diretor de Conteúdo da Folha do Mate, Sérgio Klafke. Confira abaixo: 

Foto: Reprodução / Folha do MatePrimeira coluna de Wirk na Folha
Primeira coluna de Wirk na Folha

Neste dia importante para o Wirk e o Silvinho, não se pode deixar de incluir o vínculo coma Folha doMate. Ohoje diretor deConteúdo da Folha, Sérgio Klafke, que tem mais de 40 anos de Folha, lembra que em 1993 conheceu Wirk como vitrinista da Loja Três Guris, a maior loja da cidade naquela época, que ocupava toda área que hoje é do Top Center. “A loja Três Guris, dos amigos Ali e Desiree, se transformou na maior loja da cidade em confecção, cama, mesa e banho. Como minha esposa na época, trabalhava na loja, quando esperava pela saída do horário de expediente conheci o Wirk, que fazia belas vitrines. Surgiu a ideia de criar um espaço na Folha e levei o assunto ao tio Asuir. Decidimos criar um espaço para o Wirk escrever sobre moda em cabelos e modelos, mesmo com a contrariedade de pessoas que não aprovavam. Aprimeira coluna saiu nodia 16 de abril de 1993. A Folha quebrou um tabú, trabalhamos emparceria, oWirk cresceu como profissional, se fez respeitar, e a Folha também cresceu. Isso é parceria”.

Para Klafke, nesta nova atitude corajosa do Wirk e do Silvinho, eles quebraram “mais um tabu numa sociedade que evolui espantosamente. Quando tratamos o outro comrespeito, tambémsomos tratados comrespeito, aceitando as diferenças”. Sérgio conta ainda que conversou comoWirk no eventoMulher Destaque, realizado nesta semana, quando lhe deixou uma mensagem para superar a doença: “lhe fiz ver que existe uma luz muito forte ali adiante e que ele irá superar o grande desafio, que é tratar um câncer, que tem 80% de chances de cura.”