Venâncio Aires - Existem muitos nomes para a velhice, todos eles tentando atenuar essa fase da vida que todos queremos atingir, mas que, ao chegarmos nela, provoca queixumes e algum desânimo. Em resumo, todos querem ficar velhos, mas ninguém quer ser velho. È um paradoxo humano bem compreensível.

O melhor, nessa fase, é procurar encarar a vida com bom-humor. Quem desenvolve a capacidade de rir de si mesmo e das próprias dificuldades vive mais feliz. Eu, por exemplo, recebo diariamente vários telefonemas daqueles golpistas que, por qualquer pretexto, me pedem dados pessoais na tentativa de clonar o meu celular ou invadir alguma conta bancária. Também recebo propostas de negócios reais como a compra de um apartamento na planta em Porto Alegre, cuja construção levará uns cinco anos.

A estes, começo respondendo que não posso fazer o negócio porque sofro de “hipossuficiência financeira”. O vendedor geralmente não estudou prefixos gregos como ‘hipo’ e fica um pouco confuso. Aí, eu acrescento que, além disso, não posso realizar compras de longo prazo para não desrespeitar a lei das estatísticas. Ele não entende bem. Então, eu declaro a minha idade e acrescento que, pela referida lei, há probabilidades de eu não conseguir ver o final da obra. Aí, o sujeito desiste de vez e me tira da lista de futuros empreendimentos.

Mas há outras coisas que incomodam na velhice. Uma delas é a incerteza. Como assim? Viver bastante acumula experiência, conhecimento, vivências de sucesso ou infortúnios. Tudo isso deveria ter construído um sólido muro para guarnecer nossas certezas. Finalmente deveríamos estar prontos para sempre termos as decisões certeiras e não mais repetir os equívocos da vida pregressa. Mas a idade nos traz incertezas, e estas são parentes do pessimismo e do medo. A verdadeira idade das certezas absolutas é a juventude.

Naquela fase, que pode ser estendida até os quarenta e poucos anos, tomamos as decisões mais corajosas e radicais da nossa vida. Casamos, temos filhos, construímos uma casa sem ter dinheiro, fazemos uma dívida de quinze anos sem pensar se perderemos o emprego ou ficaremos doentes. Fazemos uma viagem que pagaremos em doze prestações, trocamos de carro porque o modelo novo mudou o desenho dos faróis. Negligenciamos com a saúde interna do nosso corpo favorecendo apenas a parte estética, esquecendo que rugas e nariz grande não matam ninguém, mas artérias entupidas, sim.

Então, quando temos o privilégio de chegar àquela que um marketing otimista resolveu chamar de melhor idade, olhamos para trás e vemos claramente todos os riscos dos quais escapamos. Também vemos todos os que sucumbiram no caminho. E, ao olhar para o presente, parece que só enxergamos perigos.
Por cautela, deixamos de nos arriscar em muitas coisas, até em simples viagens. Prestamos mais atenção nos desastres do que nas paisagens. Examinamos a nossa vida financeira com preocupação exagerada.

Olhamos os nossos afetos com receio de perdê-los.

A vida é assim mesmo. Só precisamos manter o equilíbrio, contrariar a inércia e aproveitar cada dia enquanto nossas pernas nos levarem e nosso cérebro nos permitir aprender coisas novas. A Ciência diz que já nasceu aquele que viverá 150 anos. Sempre haverá em cada um de nós a esperança de ficarmos para semente.