Ainda me lembro muito bem do dia em que nos mudamos para a casa nova da rua 7 de setembro. O calçamento com paralelepípedos estava pronto, mas não liberado para o trânsito. Assim, o caminhão da mudança teve que estacionar numa rua transversal de onde tivemos que carregar no braço os móveis e utensílios. Na entrada principal da casa, bem defronte à porta, uma surpresa assustadora: uma cobra jararaca de médio porte estava nos dando as boas (ou más) vindas. É que havia muitos terrenos baldios e lavouras de mandioca nas imediações.

Passaram-se 40 anos. A casa é a mesma, mas a via que passa em frente não é mais uma rua. Parece mais uma rodovia que poderia ser rebatizada de RS 7 de Setembro. O recapeamento asfáltico ficou perfeito, a sinalização idem. O que tinha se tornado um tortuoso e deformado caminho pela ação do tráfego pesado e das obras da Corsan, agora é uma importante ligação da Estrada da Serra à RST 453, onde o trânsito pesado de caminhões e máquinas enormes se mistura aos automóveis e às motos. A cada dia mais condutores descobrem a nova alternativa que está desafogando outros gargalos do trânsito da cidade.

Por que a estou chamando de rodovia? É porque a imensa maioria dos seus usuários está andando em velocidade de rodovia. Existem placas bem colocadas mostrando o limite de 40 km/h, existe faixa amarela contínua que divide as pistas indicando ultrapassagens proibidas. Quantos condutores as respeitam? Uma pequena minoria. O excesso de velocidade é nítido aos olhos, as infrações ocorrem a todo o momento. Há poucos dias houve um entrevero bem na frente de casa: cinco carros disputando as duas faixas de ir e vir, cinco motoristas se xingando com buzinadas, freando e se empurrando para o acostamento. Tudo isso por nada, a não ser imprudência, pressa, e a tentativa de ultrapassar num cruzamento. Ao redor, postes, muros, placas, calçadas e árvores, todos comportados em seus lugares fixos, prontos para sofrerem danos e culpas caso um sinistro acontecesse.

Assim como também estava em seu lugar o muro do Cemitério Municipal que já foi alvo de dois atropelamentos. Em um deles, o muro não resistiu e o carro desgovernado atropelou três ou quatro túmulos até parar acavalado em cima de um deles. Noutra feita, foram abalroados e derrubados o pilar e uma pesada grade de ferro do muro de uma residência. Não julgo ninguém sem saber detalhes, mas foram três acidentes bizarros em menos de um mês, coisa nunca acontecida em 40 anos.

O prefeito e sua equipe merecem o reconhecimento pela realização das obras da 7 de Setembro. Foi uma decisão acertada e necessária. Errados estão todos aqueles que usufruem dela com irresponsabilidade e que não darão importância a qualquer advertência. Não sou engenheiro de trânsito, portanto não vou sugerir nada. Esperamos dos técnicos a solução dessa situação alarmante, mas é preciso urgência para vencer a burocracia. As tragédias devem ser desarmadas antes que ocorram.