O Bem voa de teco-teco e o Mal viaja de jato supersônico. Essa é a mais dura realidade. Inventam-se tecnologias para facilitar a vida e lá vêm a turma do mal para distorcê-las, desvendá-las e usá-las para roubar. É assim com celulares codificados, cartões de crédito com senhas complicadas, cofres de segurança, alarmes residenciais e veiculares. E os vigaristas são sempre mais rápidos do que qualquer invenção de segurança.
Então, se você não for um alto mandatário, se você é um cidadão que tem de prover a própria segurança pessoal e a defesa dos seus bens, você não está seguro em lugar nenhum deste país. E vai ser difícil encontrar um outro lugar do mundo onde haja segurança total. Até um míssil desgovernado pode explodir ao seu lado.
Pensando bem, a única coisa realmente segura que nos resta é o próprio pensamento, não é verdade? Sim, aquela ideia, aquela intenção, aquele julgamento, aquele afeto escondido, o ódio refreado, essas coisas todas que germinam nas circunvoluções do nosso cérebro, tudo isso está bem seguro lá sem necessidade de palavras-chave ou códigos secretos. Isto porque nós, humanos, temos habilidades avançadas como, por exemplo, a dissimulação.
Nossa cara mostra um sorriso gentil ou um olhar de paisagem, mas lá na massa cinzenta cerebral podemos estar pensando as piores coisas do nosso interlocutor. E o melhor de tudo isso é que não podemos ser punidos pelo que pensamos. O quê? O STF está querendo criar o “crime de pensamento”? Não, não, não venha com coisas de política e ditadura, a coluna de hoje é só científica!
Continuando então, é hora de eu dar aqui uma péssima notícia. A Inteligência Artificial já está desenvolvendo um jeito de ler o nosso pensamento. Terrível, não? Não é o algoritmo do celular, aquele que fica nos oferecendo coisas de acordo com as nossas preferências nos aplicativos. Trata-se de um novo sistema que utiliza um scanner magnético para monitorar a atividade cerebral e uma rede neural profunda para interpretar dados. Chama-se Ressonância Magnética Funcional (fMRI, sigla em inglês). O equipamento já consegue uma precisão de 80% na identificação de frases completas a partir dos sinais digitais. Por enquanto, a máquina capaz dessa façanha pesa 500 quilos e custa 2 milhões de dólares.
Vale lembrar que os primeiros computadores eram bem maiores do que isso. A empresa Meta, que está desenvolvendo esse projeto, diz que não pretende comercializá-lo. Claro que não! Primeiro, vai aperfeiçoá-lo e miniaturizá-lo até que caiba na palma da mão e aí, sim, estará à venda. E poderemos sair por aí com um aparelhinho desvendando o pensamento alheio e, claro, expondo o nosso.
Meus leitores mais velhos, assim como eu, não precisamos nos preocupar. Certamente não viveremos até essa novidade se popularizar. Que consolo, hein? Já os mais novos, se preparem. As falsas desculpas, as evasivas, as negações, os elogios mentirosos, tudo isso vai ser desmascarado sem misericórdia. A luxúria vai ficar explícita. As traições se tornarão impossíveis. Preparem-se, pois, para dias em que as pessoas rolarão pelas ruas em luta corporal. O Juízo Final vai ter que ser adiantado.
Espero sinceramente errar essa previsão. Prefiro ser um péssimo profeta do Apocalipse do que ver a Humanidade perder a última fronteira da liberdade de pensar.