As campanhas eleitorais do século passado eram sempre cheias de emoções. As últimas duas semanas antes do pleito concentravam o maior número de boatos e denúncias: “Atenção, pessoal! A coligação X tá preparando um caminhão de ranchos pra distribuir na vila Y. Vai sair do mercado Tal à meia-noite. Vamos fazer campana lá e seguir o caminhão. Fazer fotos, se possível.”

Fazer fotos era, ainda, uma coisa bem difícil, pois não existiam celulares. Na prática, os caminhões “suspeitos” eram seguidos por carros e motos tentando flagrar o crime eleitoral. Depois, vinham os boatos sobre sacolas de ranchos encontradas nas casas dos eleitores cheias de “santinhos” de certos candidatos.

Distribuidoras de gás de cozinha e lojas de material de construção eram também muito visadas.

Camionetes com tábuas, tijolos, cerâmicas, vasos sanitários e outras peças eram seguidas até o local da descarga. Um artigo de muito valor era a brita, o que rendia a piada: “O candidato Fulano tá dando brita, mas não é pra espalhar!”

Havia também a estratégia das contas de luz. Cabos eleitorais de confiança recolheriam os boletos de energia elétrica nas vésperas do pleito e os pagariam após a eleição, caso o candidato Beltrano fosse eleito. Carona aos eleitores no dia da votação também era crime eleitoral, nem que fosse para uma velhinha de muletas caminhando com dificuldade numa estrada poeirenta.

Muitas dessas denúncias chegavam a ser encaminhadas à Justiça Eleitoral que, vez por outra, promovia algumas diligências. Que se saiba, por falta do “elemento probatório”, ninguém acabou condenado.

Voltemos aos dias atuais. O governo vai doar botijões de gás para 17 milhões de famílias em 2026 (também conhecido como Ano Eleitoral). O custo estimado é de 5,6 bilhões de reais. Também já está aprovada a gratuidade da energia elétrica para 17 milhões de famílias. O custo de 3,6 bilhões será bancado pelos outros consumidores de energia elétrica por meio da CDE – Conta de Desenvolvimento Energético.

Está em fase adiantada de estudos a concessão de tarifa grátis no transporte público em todo o País. Custo previsto: 90 bilhões.

O Bolsa Família, que atende 19,9 milhões de famílias, deve ter seu valor aumentado em 2026. O custo está indefinido, a depender do reajuste. Hoje, o programa já custa 158,6 bilhões por ano.

Para manter tudo isso, o governo precisa de duas condições fundamentais. A primeira é continuar aumentando impostos. Só neste mandato já ocorreram vinte e sete aumentos, segundo os tributaristas.

Com isso, são punidos aqueles que empreendem, trabalham e produzem. O resultado disso leva à diminuição do lucro, aos baixos salários e ao endividamento. Isso gera a segunda condição, que é manter um alto percentual de pobreza. Segundo o próprio presidente da República, em declaração textual, “um país, para dar certo, precisa garantir que muitos tenham pouco dinheiro.”

O modelo atual tende ao Infinito dos gastos. Mas chegará o dia em que se confirmará a célebre frase da primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher: “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros.”

Aqueles candidatos suspeitos de comprar votos no século passado jamais imaginariam que suas práticas delituosas inspirariam ações transformadoras de crimes eleitorais em virtudes legalizadas.