Há uma grande confusão sobre o significado de esquerda e direita no campo ideológico e político. Na maioria das tradições religiosas, a mão direita é associada à bondade, à virtude e à bênção. Na Bíblia, estar sentado à mão direita de Deus simbolizava honra e poder. Já a mão esquerda, segundo muitas religiões, tinha uma conotação negativa. Ser canhoto seria uma desvantagem, algo ligado ao pecado ou à impureza. A palavra ‘sinistro’ vem do latim ‘sinister’, que significa esquerdo e está ligada à má sorte, maldade ou perigo. Não é por outra razão, senão por influência religiosa, que muitos pais tentavam, num passado nem tão distante, forçar seus filhos canhotos a virarem destros. A taxa de sucesso nessa empreitada sempre foi próxima de zero.

Porém, engana-se redondamente quem pensa que essa influência religiosa tenha algo a ver com o que hoje significam direita e esquerda no campo das ideias e práticas políticas e sociais. Essas denominações passaram a existir a partir da Revolução Francesa de 1789.

Quando a Assembleia Nacional francesa se reunia, aqueles que apoiavam a continuidade da monarquia e os privilégios da nobreza se sentavam sempre à direita da presidência. E os apoiadores das mudanças sociais e das reformas buscando igualdade e justiça social agrupavam-se sempre à esquerda. Com o passar dos séculos, direita e esquerda deixaram de ser apenas um simples lugar para se sentar e passaram a incorporar novos significados, bem como eliminando velhas e ultrapassadas práticas.

A Revolução Francesa foi um marco para várias outras revoluções pelo mundo, tanto nos campos de batalha como nas ideias e mentes. Conhecendo um pouco da história dos povos antigos, sempre subjugados pelos nobres e poderosos, tendo que fugir da fome imigrando para terras desconhecidas, é possível dizer que muitos ‘direitistas’ de hoje, caso vivessem no século 18, se sentariam à esquerda nas assembleias da época. Até porque eram seus antepassados que se sentavam lá.

Nos dias atuais, ser de esquerda significa dar ao Estado (diga-se Governo) todo o poder de intervir na economia, na distribuição de renda, nas regras do trabalho, garantir gratuidade nos serviços públicos, inclusão social, direitos humanos aos oprimidos, apoio a movimentos trabalhistas e de minorias. Já a direita prega a liberdade individual, a economia de livre mercado, a proteção da propriedade, a iniciativa privada, a meritocracia, tudo isso como base do desenvolvimento econômico e social, com a mínima intervenção do governo. Também valoriza as tradições e costumes, a família, a religião, a ordem, o respeito à hierarquia e o nacionalismo.

Não é difícil concluir que direita e esquerda apresentam, em teoria, boas ideias e intenções. Por que o mundo ideal de cada uma delas não dá certo na prática? Essa discussão não cabe no espaço físico desta coluna, mas cabe no cérebro do leitor. Só quero aqui colocar mais duas palavras: radicalismo e polarização. Radicalismo significa não enxergar no oponente nenhuma qualidade, só os defeitos. Polarização é situar-se sempre nos extremos de cada corrente ideológica, tratando o outro lado como inimigo figadal. Enquanto não houver um meio-termo, vamos viver nesta guerra de alternâncias no poder que consome nossas energias, nosso dinheiro e nossas esperanças. “A virtude está no meio”, já dizia Aristóteles.