Este espaço no jornal se chama ‘Era uma vez’ para que eu tenha a oportunidade de contar às novas gerações como eram a vida e os acontecimentos do passado e entrelaçá-los ao presente. E, quem sabe, a partir daí tecer uma visão para o futuro. É verdade que nem sempre consigo me segurar e me intrometo em fatos exclusivamente atuais, mas os leitores hão de perdoar esses, digamos assim, desvios de conduta. No fundo, o que eu quero é abrir algumas janelas no pensamento dos que me dão a honra da leitura e estimular novas ideias e visões. E diverti-los um pouco, também.

Não estou aqui a serviço de nenhuma causa própria ou de terceiros. Obedeço simplesmente às minhas próprias convicções e, não raro, deixo transparecer o meu desalento com tanta coisa que deveria ser bem melhor neste país que poderia ser o mais rico do mundo.

Estamos a um ano da próxima eleição presidencial. Neste exato momento, tudo indica que o atual presidente será reeleito. Sua grande adversária é, apenas, a idade. Com 80 anos, o corpo pode nos pregar peças a qualquer momento. Porém, a julgar pela desenvoltura que tem demonstrado, é bem possível que Lula tenha boa saúde para, pelo menos, adentrar seu quarto mandato. Por precaução, deve escolher um bom vice. A fila de candidatos a vice vai ficar enorme.

Até aqui, já devo ter provocado grande contrariedade, talvez a ira, de muitos bolsonaristas quando afirmei que, hoje, Lula é o favorito. Calma. Não sou inimigo. Vamos aos fatos: há dois meses, todas as pesquisas de opinião mostravam que a avaliação negativa de Lula era maior que a positiva. E, nas simulações eleitorais de segundo turno, ele perdia para todos os possíveis candidatos de direita.

Aí, entrou Trump com suas taxações sobre as exportações brasileiras aos EUA ostensivamente influenciado por um filho de Bolsonaro e aplaudido amplamente por bolsonaristas raiz. Veio o julgamento no STF e, que ‘surpresa’: Bolsonaro foi condenado. Enquanto isso, os bolsonaristas de alto calibre tratavam de torpedear Tarcísio de Freitas, o mais viável candidato de direita com chances de ganhar de Lula.

Vieram novas pesquisas. Os resultados indicam que Lula, jogando parado, fazendo apenas um discurso nacionalista, sem ter melhorado nada no seu governo, melhorou sua aprovação e agora vence qualquer um dos possíveis adversários.

Quer dizer: a direita se atrapalhou sozinha. Coisa, aliás, que já tinha acontecido muitas vezes enquanto foi governo. A lei da anistia não vai passar no Congresso. Bolsonaro ficará preso em algum lugar e está proibido de articular com quem quer que seja. A aliança Lula-STF, oficialmente inexistente, mas óbvia na prática política, está com todas as cartas na mão para vencer.

Bolsonaristas raiz ou lulistas fanáticos, sozinhos, não elegem o seu respectivo candidato. Se a direita pretende ganhar a eleição, tem que se unir internamente e unificar um discurso propositivo para o Brasil. Tem que ser capaz de trazer para si o voto maciço dos nem-nem. Os nem-Lula e os nem-Bolsonaro formam o grande contingente que decidirá a eleição de 2026.