Venâncio Aires - O domingo passado foi um dia especial para Romeo, meu neto de oito anos. Entre as crianças que entraram em campo na Arena do Grêmio, junto com os atletas, ele estava lá, sorridente, feliz da vida por realizar o sonho de muitos torcedores mirins. Mas esse foi apenas o final feliz de uma história ruim que vou contar agora.

Há algumas semanas, Romeo foi convidado para o aniversário de um amiguinho. A festa era nas dependências do Estádio Beira-Rio do Internacional num local denominado Coração do Gigante, um espaçoso ‘lounge’ que, nos dias de jogo, é ocupado por sócios especiais e convidados, com acesso direto às arquibancadas. O espaço também é locado ou cedido para festas particulares, como o caso aqui citado.
Estava programado um jogo da criançada dentro do próprio estádio, no gramado atrás de uma goleira. Romeo não teve dúvidas: vestiu o uniforme completo do seu time do coração, que é o Grêmio, e se foi para a festa levado pela mãe.

Lá chegando, foi barrado na entrada pela funcionária do Inter que controlava a lista de convidados. Ela foi incisiva: não pode entrar com a camisa do Grêmio! Surpreso, o menino olhou para a mãe, que tentou argumentar que o evento era particular, não do clube, mas não foi ouvida pela funcionária. Entre perder mais de uma hora para voltar em casa e trocar de roupa, Romeo aceitou, contrariado, tirar a camisa e ficar apenas com uma camiseta térmica que, por ser um dia frio, estava usando. A mãe combinou a hora de vir buscá-lo e se retirou levando a camisa vetada.

Já no ambiente da festa, entre docinhos, pasteizinhos e sucos, o menino sofre uma nova abordagem da exigente funcionária do Inter. Desta vez, ela exigia que ele tirasse o calção do Grêmio, ou teria de ir embora. O menino ficou desesperado e desamparado sem a mãe por perto, e quase chorou. Vendo a cena constrangedora, uma senhora o consolou e arranjou, não se sabe de onde, um calção de um time do Rio de Janeiro que Romeo vestiu visivelmente contrariado e nervoso. Para completar, a funcionária ainda exigiu que ele baixasse totalmente as meias de modo a esconder o logotipo do Grêmio. Passou o resto da festa envergonhado e tristonho.

Dias depois, meu filho comentou o fato com um amigo que é conselheiro do Grêmio. Este, por sua vez, contou o acontecido para o presidente do Grêmio que, imediatamente, enviou uma mensagem gravada para o meu neto prometendo recebê-lo em breve na sala da presidência.

Na semana passada, Romeo e família foram carinhosamente recebidos no Centro de Treinamento do Grêmio, assistiu ao treino, tirou fotos com o presidente, com os atletas e com o técnico Mano Menezes. E foi convidado para entrar em campo no jogo de domingo, cujas imagens da TV guardamos com carinho.

A direção do Grêmio deu uma lição de como se devem respeitar as diferenças, a diversidade e a liberdade para as crianças expressarem as suas identidades. Salvou a autoestima de um menino de apenas oito anos que passou por sério constrangimento e sensação de desamparo.

Já o Inter, por conta da atitude individual de uma funcionária, ou por orientação superior, fez tudo ao contrário. É decepcionante para um colorado, como eu, admitir a veracidade desse episódio tão preconceituoso.