Venâncio Aires - Os fenômenos climáticos estão assustadores. Não me lembro de outras épocas em que se prestava tanta atenção às previsões do tempo. Embora nem sempre acertem, os meteorologistas e seus equipamentos evoluíram muito, e já vai longe o tempo em que curiosos tentavam prever chuvas e temporais pela simples observação das nuvens e o movimento dos animais. Ou pela dor nas canelas. Sim, a dor de uma fratura antiga no osso da perna era considerada um importante anúncio de mau tempo pela frente.

Havia também algumas pessoas que autoproclamavam poderes para desviar tormentas. Vi alguns deles em ação: erguiam um machado, colocavam-se de frente para as nuvens pretas que se aproximavam rapidamente e, orando, conseguiam rachar a tempestade pelo meio. Um desses benzedores do tempo me contou orgulhoso, certa vez, que tinha desviado uma forte tempestade para Lajeado. Não sei se os lajeadenses teriam gostado disso.

A COP — Conferência das Partes — vem sendo o principal encontro promovido pela ONU para discutir e negociar ações contra as mudanças climáticas. A atual COP 30 em Belém parece que não está bombando muito: dos quase 200 países integrantes, apenas 14 chefes de Estado compareceram. Notadamente, os presidentes dos EUA, China e Rússia não vieram, o que significa que 50% da poluição mundial ficaram de fora da discussão.

Realizar uma COP em plena Amazônia reforça a ideia amplamente difundida de que aquela imensa floresta é o “pulmão do mundo”. Será? A Amazônia total mede 6,7 milhões de quilômetros quadrados abrangendo nove países, sendo que 4,2 milhões estão no Brasil. Já a superfície total da Terra mede 510 milhões de quilômetros quadrados. A Amazônia, portanto, representa pouco mais de 1% (um por cento!) da área total do planeta. Mantida a metáfora pulmonar, é como se fosse feito um transplante de pulmão de um coelho para um leão.

Há muitas opiniões divergentes sobre o real interesse que as nações têm sobre a Amazônia. Há os que defendem a sua preservação integral como o último baluarte para diminuir o aquecimento global graças ao trabalho das árvores trocando gás carbônico por oxigênio. Mas há também muita gente interessada em paralisar qualquer utilização da região amazônica na produção de alimentos ou na exploração de suas exclusivas riquezas minerais. Deixá-la paralisada evita mais concorrência na produção alimentar mundial, favorecendo países europeus, como a França, onde a agricultura é fortemente subsidiada pelo governo.

Quando quer agradar os camponeses franceses, o presidente Macron ataca a “devastação” amazônica.
Para o território brasileiro, a Amazônia, como pulmão e reguladora do regime de chuvas, é vital. Deve ser defendida por governos de qualquer ideologia. Porém, defendê-la não significa mantê-la intocada. A exploração racional e ecologicamente correta do seu patrimônio é tarefa nacional e não estrangeira. As COPs têm se mostrado lentas e burocráticas. Mais servem para expor personalismos e gastos extraordinários do que para benefícios efetivos ao meio ambiente.

Brasileiros cuidando da sua Amazônia com responsabilidade respaldada por uma Ciência isenta de contaminações ideológicas, sem ONGs estrangeiras de fachada, sem interesses comerciais internacionais disfarçados de defesa ambiental — eis aí o verdadeiro caminho.
Será que vamos trilhá-lo algum dia?