Um pai à moda antiga

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Já escrevi algumas vezes aqui que a evolução da humanidade não pode ser contida, e não adianta sonharmos com o passado porque ele jamais voltará, a não ser em algumas modas do vestuário. O tipo de sociedade que temos vai se modificando de forma cada vez mais vertiginosa e em poucos anos já haverá saudades dos tempos de hoje.

Assim, o atual o modelo de família certamente se transformará. Qual será, então, o novo modelo familiar? Como será a sociedade do futuro? Não me arrisco e prever e não encorajo ninguém a fazê-lo. O que for, será. Só Deus sabe.

Porém, nós, os maduros, temos o direito de recordar e defender o modelo familiar da nossa época e atribuir a ele muitas qualidades que já são escassas hoje. Tenho saudades, sim, do tempo em que um pai podia sozinho sustentar a casa e a mãe só trabalhava fora se assim desejasse, e não por necessidade financeira. Sou de um tempo em que os pais e as mães eram a autoridade máxima dentro e fora de casa. Autoridade essa, diga-se, que era exercida de forma natural, com um tipo de amor que não precisava ser dito em palavras, mas estava implícito em cada gesto e atitude. Uma autoridade que não precisava ser explícita: bastava a coerência, bastava a firmeza, bastava o exemplo. E nem era necessária a presença física: sabia-se que não se devia fazer isso ou aquilo porque o pai e a mãe não aprovariam, mesmo que não estivessem vendo. Não era medo, era respeito.

Dessa forma, a estrutura familiar se replicava na escola onde a autoridade dos professores não era questionada. Daí resultava uma disciplina natural, um respeito pela hierarquia, e isso era o esteio da sociedade. Era um tempo em que quase tudo girava em torno do modelo familiar. Ninguém delegava ao Estado – leia-se poder público – a formação moral dos filhos.
Eu, que hoje já teria idade para ser o pai do meu pai quando ele morreu, ainda o tenho como parâmetro e modelo para muitas coisas. Num tempo em que não existiam leis que proibissem um puxão de orelhas ou uma palmada, nunca recebi dele esses corretivos. Jamais me chamou para dar “aulas” de comportamento. Deu-me o exemplo, deu-me responsabilidades nos negócios da família e, mais do que isso, a sua presença constante, uma sensação de eterna proteção.

Tenho que repetir aqui que não estou com esperança da volta desse modelo que está se extinguindo. Já era, já foi, nunca será mais assim. Porém, vejo com pesar a sociedade de hoje: criminalidade, tóxicos, desrespeito aos valores morais, desprezo pela experiência, pela hierarquia e pela autoridade, mau exemplo dos governantes, permissividade, tolerância com a desonestidade, pouco apego ao trabalho.

Há uma máquina gigantesca, uma engrenagem infinita tentando controlar esses problemas. Há escolas, creches, juizados, assistência social, clínicas de reabilitação, delegacias especializadas, promotorias, ambulatórios, hospitais… São todos paliativos para situações que uma boa estrutura familiar poderia evitar.

Por favor, não me rotulem de machista, patriarcal ou retrógado. Por ser impossível, não faço a pregação de uma volta ao passado. Sou só um saudosista que ainda conseguiu criar bem os filhos de uma forma, digamos, tradicional. Já a educação dos seus próprios filhos é tudo com eles. Minha missão, já a cumpri. Agora, o vovô tem só o direito de ‘estragar’ os netos.

    

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